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MITOLOGIA EGIPCIA

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    sábado, junho 24, 2006

    4 – O Reino Antigo:
    Como vimos, o período denominado Antigo Império (também chamado Reino Antigo) inicia-se com a III Dinastia, por volta de 2686. Mas qual foi a grande transformação que determinou que a Arqueologia (que, no caso específico do Egito, tem um nome mais apropriado: Egiptologia) e a História passassem a considerar o período iniciado com o Reinado de Sanakhte como sendo um período distinto daquele vivido pelas duas primeiras Dinastias Egípcias?



    Bem, além do fenômeno da construção de pirâmides, que se inicia no governo de Djeser (ou Djoser), segundo Faraó da III Dinastia, outro forte dado para a escolha da III Dinastia como sendo o marco inicial do Antigo Império foi o provável estabelecimento da escrita hieroglífica (se bem que muitos estudiosos dessa escrita não concordem que as formas utilizadas no início do Antigo Império fossem as mesmas que se eternizaram como sendo o padrão de escrita hieroglífica clássica, encontrado, sobretudo, nos túmulos das Dinastias do Novo Império). Para este trabalho, aceitaremos a datação do início do Antigo Império na III Dinastia, mas entenderemos que o principal divisor de águas entre este novo período e seu predecessor seria tão somente a adoção de Hórus como nova Divindade Dinástica suprimindo o culto oficial de Set.

    Baixo-relevo em parede mostra
    ilustração de Djeser


    4.1 – Os Semi-Deuses de Mênfis:

    Os Faraós do Antigo Império governaram à partir da cidade de Mênfis, construída por Narmer e Aha no local tido como a mítica vila natal do Escorpião-Rei: Tura. Se esta procedência era verdadeira, não é possível saber, muito pelo fato de Mênfis não conter tantos resquícios arqueológicos quanto outras capitais Egípcias posteriores, como Tebas. Isso porque, pelo fato de a cidade se localizar praticamente no Delta, os índices pluviométricos, bem como os estragos causados pelas cheias do Nilo se fazem muito mais fortes; o que destruiu muitos possíveis achados.



    Agora que o Egito estava definitivamente apaziguado e que já se podia contar com uma escrita (ainda que não totalmente definitiva) capaz de permitir a administração de longas faixas de terra (é bom que se saiba que aquilo que se entende como sendo o Egito compreende uma faixa de terra relativamente estreita que se localiza nas margens do Nilo nos seus últimos 1200km antes de atingir o Mediterrâneo), era chegada a hora de se estabelecer um regime que proporcionasse sua eterna continuação. Algo precisaria ser criado nesse sentido.

    Com o intuito de se eternizarem no poder, os soberanos, devem, por volta do final da II Dinastia, ter se feito proclamar criaturas divinas. Isso talvez não fosse algo absurdo para aqueles homens e, possivelmente teria sido uma mera amplificação das atribuições dos antigos Reis-Heróis dos Spat Pré-Dinásticos. Na medida em que um desses Reis conseguiu se sobrepor aos demais e se fazer proclamar Faraó, o Rei do Alto e do Baixo Egito, era mais do que natural que só o tivesse podido fazer pela graça dos Deuses e, sendo assim, a idéia de que ele próprio fosse um “Escolhido dos Deuses” e, posteriormente um “Deus Vivo” não constituía um delírio, algo inaceitável pela população.

    Há que se lembrar que o Egito não contava com nenhum meio de comunicação que não fosse o Nilo, ou seja, as notícias corriam, em geral através de convocações Estatais e histórias contadas de boca-a-boca, levadas Nilo acima e Nilo abaixo por mercadores, viajantes e oficiais do Faraó. Sendo assim, um indivíduo de tamanho poder, vivendo num palácio numa cidade mitológica, sobre o qual se contavam histórias incríveis seria naturalmente digno de temor, senão de adoração (ou talvez ambos); como um verdadeiro Deus.

    A deificação do faraó se concretiza na III Dinastia e esta aliada à crença (agora reforçada pela descoberta da mumificação) na vida após a morte, tendia a transformar o poder do soberano algo incomensurável dentro dos padrões humanos.


    4.2 – A Maat e o Espírito do Egito:

    É impossível se estudar a História do Egito Antigo sem se mencionar e, principalmente, se compreender o conceito de Maat. Não é possível, no entanto, conceber com exatidão quando este conceito começou a ser formulado pelos Egípcios, porém, algumas sugestões podem ser dadas a esse respeito (farei isso, contudo, neste mesmo item, porém, após a explicação do que é a Maat).

    Maat é uma palavra Egípcia cuja tradução literal implicaria em dois termos distintos, se bem que afins: Verdade e Justiça! Essa era a base sociedade Egípcia e, toda vez que este conceito era abalado, algo acontecia de muito grave no Vale do Nilo.

    Para os Egípcios, a Maat estava relacionada à idéia de Ordem, de continuidade, ou seja, se tudo continuasse como sempre foi (camponeses trabalhando, guerreiros guerreando, governantes governando, o Faraó organizando tudo e prestando culto aos Deuses...), a Justiça e a Verdade estariam sendo cumpridas e espalhadas pelo Egito. Porém se algo abalasse a Ordem (algo simples como a morte do Faraó, ainda que por causas naturais), então a Maat estaria em risco.

    Como foi afirmado, não é possível precisar quando esse conceito foi estabelecido, mas o mais provável é ele seja o resultado de uma busca por estabilidade político-social no Período Proto Dinástico (I e II Dinastias) enfim alcançada. É certo, porém, que para ter se tornado um conceito universal dentro do Egito, sendo cultuado e aceito por cada indivíduo desde o mais humilde camponês até o próprio Faraó e sua corte, a Maat não pode ter sido meramente formulada num dado momento e imposta à força à população, por isso, é provável que seu conceito seja uma reelaboração (e talvez até uma revisão) de costumes mais antigos, que talvez remontassem a épocas longínquas onde a população ainda era nômade. Aliás, uma boa teoria para o surgimento do conceito de Maat seria a idéia de diferenciação entre os povos sedentarizados das margens do Nilo e os povos ainda nômades que vagavam pelo deserto acampando e se estabelecendo temporariamente em oásis.

    Quando um Faraó morria, o período de tempo até que um outro soberano assumisse o poder era um período de conturbações onde a Maat corria sérios riscos. As crenças populares relacionavam anos de cheias irregulares (muito altas (capazes de destruir vilas e casas ao invés de ajudar com o humos restaurador da vida) ou muito baixas (o que trazia a certeza de más colheitas e, portanto, de fome)) do Nilo com distúrbios na Maat. Tamanha era a crença na Maat que não é difícil relaciona-la com uma modificação na teoria da vida após a morte surgida no início do Antigo Império, ou seja, esta estaria agora totalmente dependente da Maat. Vejamos:

    Se o Faraó era o enviado dos Deuses os Egito para assegurar a manutenção do Reino, cabia a ele, acima de qualquer outro, zelar pela Maat. Se seu governo tivesse sido bom e, dessa forma do agrado dos Deuses, então o Faraó mereceria culto por muitos e muitos anos (virtualmente pelo resto da eternidade), sendo assim, seria eterno no pós-morte. Se o Faraó fosse eterno no pós-morte, ele continuaria exercendo por lá o mesmo papel que exercia em vida, ou seja, o de governante e, dessa forma, precisaria de um Estado para governar. Esse Estado seria composto pelos indivíduos que habitavam o Egito enquanto ele era vivo e que, dessa maneira foram beneficiados por sua competente manutenção da Maat. Sendo assim, se o Faraó fosse bom e vivesse para sempre, logo todo o Egito viveria, ou seja, a vida após a morte dos indivíduos do Antigo Império não era individual, mas ligada ao Espírito do Egito: a Maat. Esta, por sua vez era dependente do bom governo do Faraó que, por sua vez,
    só poderia se realizar com a colaboração da população o que obrigava todos a se engajarem na luta pela manutenção da Maat.


    4.3 – A Expansão Territorial e a Formação do Exército:

    Tão logo o Egito estava consolidado, a intenção dos Faraós se voltou para os territórios além Nilo, ou seja, para a Núbia (que, apesar de se localizar também às margens do Nilo, ao sul, talvez pela etnia, talvez pelas cataratas que constituíam barreiras naturais à expansão humana, não fazia parte do Egito), para a Líbia, para o Sinai e para os povos dos oásis.

    O Egito havia alcançado um nível de organização político incomparável com qualquer civilização da mesma época, no entanto, seus exércitos ainda eram organizados da mesma forma primitiva que aqueles dos antigos Spat.

    Homens que trabalhavam no campo e que não dispunham de qualquer treinamento militar eram periodicamente convocados pelos líderes regionais (sobre a organização política do Egito discorrerei um pouco mais adiante) para integrar o exército nacional. Recebiam lanças, fundas, clavas e manguais, às vezes recebiam certos tipos de capacetes e escudos e partiam, divididos em pelotões de infantaria apenas, para marchas de conquista.

    É certo que a organização do Estado Egípcio, bem como a agricultura de irrigação, permitiam que o contingente populacional fosse bem grande, o que tornava praticamente impossível aos agredidos resistir por muito tempo aos assaltos Egípcios. Porém, perdas constantes de homens que constituíam força de trabalho tanto privada quanto pública (no período da Inundação) poderiam enfraquecer o poder do Egito.

    Não é comprovado, mas especula-se que desde os tempos mais remotos o Faraó sempre fora o comandante militar supremo do Egito, sendo assim (coisa que não é de se admirar, uma vez que eram os descendentes dos antigos Reis-Heróis glorificados no combate), sua presença necessariamente inspirava os guerreiros que, afinal de contas, estavam combatendo lado a lado com um Semi-Deus.

    Os contatos comerciais com a Fenícia foram alguns dos primeiros movimentos internacionais realizados pelo Egito centralizado, talvez até os Monarcas do Proto Dinástico já os tivessem iniciado e era através desses contatos que o Egito obtinha o cedro tão necessário para a navegação.


    Os primeiros esforços militares de expansão devem ter sido em direção à Núbia, afinal, sabia-se que lá havia muitas minas de ouro. A região que não era tão bem organizada (na realidade não se sabe quase nada sobre a organização política da Núbia (atual Sudão) numa época tão recuada) foi facilmente submetida e nela foram instalados colonos mineiros. Além da instalação de Egípcios na Núbia, é muito provável que tenha havido um certo intercâmbio populacional, já que produtos da Núbia eram bem vistos no Egito e que, dentro de pouco tempo, passa-se a ver mercenários Núbios agindo como guardas pessoais do Faraó.

    O domínio da Núbia consistia em se vencer as cataratas do Nilo e, sendo assim, no Antigo Império, ele não passou da região entre a primeira e a segunda cataratas.

    Tomadas as minas da Núbia, o próximo passo era marchar rumo ao Sinai, a península que divide a África e a Ásia, localizada ao norte do mar Vermelho. No Sinai existiam grandes quantidades de cobre e este material era indispensável para a evolução militar do Egito, além de turquesas, pedras muito apreciadas pelos Egípcios (acredita-se que as primeiras expedições ao Sinai com o objetivo de obter turquesas tenham ocorrido ainda na I Dinastia, sob a liderança dos Faraós Djet e Den). Com o cobre extraído no Sinai foram confeccionadas novas armas, mais eficientes que as de madeira, sílex e pedra utilizadas até então e, a partir desse domínio, o fôlego militar do país dos Faraós aumentou.

    Com o domínio do Sinai, estabeleceram-se portos no mar Vermelho e, a partir deles, foram lançadas expedições marítimas ao lendário Punt (país ou região mais comumente associada à atual Somália), de onde foram trazidas diversas raridades, inclusive girafas.

    O próximo rumo dos exércitos seria os oásis, ou seja, seria a pacificação das populações nômades e semi-nômades que, por sua própria existência, comprometiam a Maat, visto que não pode haver Ordem num mundo de Caos e incerteza como o dos nômades e o que era pior, esse indivíduos habitavam as proximidades do Nilo e, vez por outra, atacavam populações de vilas menores em busca de saques e de animais domesticados. Isso precisava parar e os Faraós se dedicaram a faze-lo.

    No caminho natural da expansão o Egito atingiu a Líbia, região que, devido à proximidade com o Delta e à característica nômade de sua população atacava freqüentemente o Egito, e de lá trouxe mais produtos inusitados e mais mercenários para servirem nos palácios do Faraó, bem como escravos (o Faraó Snefru, da IV Dinastia, aprisionou mais de sete mil Núbios e onze mil Líbios em duas campanhas distintas).

    Por volta do início da VI Dinastia, os primeiros contatos comerciais entre Egito e Creta são relatados por fontes Minóicas (Cretenses), o que comprova que os Egípcios já haviam conseguido dominar a navegação marítima com certa tranqüilidade, a ponto de arriscarem precisos navios em comércio com Creta.

    Com efeito, a expansão do antigo Império não foi um fenômeno rápido como a narrativa linear faz parecer, ela perdurou por mais de 400 anos sendo interrompida em determinados períodos e intensificada em outros. Porém, mais do que formar um grande Império, coisa que ela não foi apta a fazer (uma vez que apenas conseguiu pacificar parcialmente os povos nômades do deserto, e estabelecer colônias mineradoras no Sinai e no norte da Núbia a região mais tarde conhecida como País de Kush), essa expansão foi uma das responsáveis pela consolidação do ideal de nação Egípcia, na medida em que fez com que povos das mais variadas regiões lutassem juntos num só exército, além de por o Egito em contato com povos estrangeiros, coisa que, em escala tão grande, nunca tinha acontecido até então.

    Como efeito secundário da expansão podemos notar a formação de uma espécie de guarda nacional de mercenários, responsável pela defesa do Egito e não pela conquista de territórios e uma melhora significativa na capacidade bélica dos exércitos com a introdução gradual de novas armas (primeiro os escudos, depois os capacetes e, por fim, as armas de cobre). No final do Antigo Império surge o kopesh, uma arma que viria a ser uma marca registrada da região do Egito por muitos e muitos anos, até mesmo os soldados de Napoleão Bonaparte tiveram que enfrentar guerreiros Mamelucos do Egito que, montados em camelos, empunhavam cimitarras, aperfeiçoamentos do antigo kopesh Egípcio inventado no final do Antigo Império.


    4.4 – O Faraó, a Política e Poder no Egito:

    Mencionei anteriormente que o Egito era dividido em Spat, ou Nomos, mencionei também que estes eram espécies de conglomerados de vilas próximas ligadas a uma espécie de vila-mãe e que eram aproximadamente 40 distribuídos ao longo de toda a extensão do Nilo.

    Pois bem, a partir desses Spat, como já foi mencionado, se processou a unificação gradual do Egito que culminou na criação de dois Reinos que posteriormente foram unificados em um só por Narmer e seus sucessores.

    A questão que nos resta é justamente como se processava a divisão política dentro do Egito depois de sua unificação, visto que, como já expliquei, antes dela havia Assembléias Populares (Zazat) e Conselhos de Anciãos (Saru), que foram gradualmente substituídos por autoridades Reais obtidas em batalhas.

    Continuando uma evolução lógica da polícia Egípcia, percebe-se que através de alianças e/ou combates os antigos Reis-Heróis foram unindo os Spat sobre sua autoridade e essa união resultou no Egito, mas não podemos deixar de ter em mente que não é porque um povo é conquistado por outro e passa a ser por ele dominado que todas as suas particularidades culturais desaparecem. É certo, no entanto, que um domínio muito prolongado pode impor certos traços culturais do dominador, como, por exemplo, a língua (o que explicaria que apenas um idioma (o Egípcio) se espalhasse por todo o Egito). Após a unificação de alguns Spat, o Rei do Spat que se encontrava em situação de preponderância era intitulado Rei e os demais, governadores de províncias, essa situação permaneceu mesmo após a unificação de todo o Egito, sendo assim, esse antigos Reis passavam agora a ser espécies de governadores que, neste texto, seguindo o termo Grego, serão chamados de Nomarcas.

    Cada Nomarca era, com efeito, uma espécie de Rei em seu Spat. Vivia em uma cidade central e controlava-a, bem como às diversas vilas que constituíam seu domínio. Havia um resquício do antigo Saru, ou seja, uma espécie de Conselho dos cidadãos mais importantes de cada uma das vilas que assistia o Nomarca no governo da província. O Zazat nunca deixou de existir, mas, é muito provável que se algum dia tivesse realmente tido algum tipo de poder de voto, no Egito unificado tenha sido reduzido apenas a uma reunião pública onde os membros do Saru comunicavam as decisões do Nomarca e/ou do Faraó.

    É óbvio que um sistema burocrático tão descentralizado e, ao mesmo tempo tão centralizado (descentralizado do ponto de vista em que existiam diversas instancias de poder público e centralizado no sentido em que algumas dessas instâncias eram de fato detentoras de muito poder sobre as regiões às quais lhe cabia mandar) não poderia existir se não contasse com muitos oficiais régios. Estes oficiais, bem como os próprios governantes das mais variadas instâncias tinham de ser necessariamente letrados, sendo assim, os oficiais redigiam documentos ditados por seus superiores e eram encarregados de leva-los a quem fosse devido e de, no caso de avisos à população, lê-los em público. Estes oficiais são popularmente conhecidos como Escribas e trabalhavam na só no governo, mas também nos mais variados templos.


    4.4.1 – O Alto e o Baixo Egito:

    Como originalmente o Egito havia sido unificado em dois Reinos e como ele nunca deixou de se reconhecer oficialmente como a união de dois Reinos sob um único governante, nada mais natural que houvesse um governante no Alto Egito e um no Baixo Egito, ambos imediatamente abaixo do Faraó. Este cargo realmente existia era conhecido como Tjati (muitos livros referem-se a este cargo com o título de Vizir, o que é um erro, uma vez que tal título é de origem Turca e só seria implantado por volta do século XII d.C., quando os Seldjúcidas se tornariam Vizires dos Califas Abássidas de Bagdad), uma espécie de Primeiro Ministro.

    Na realidade, o Tjati era o supremo chefe político do país e habitava em uma grande cidade do Reino, usualmente Hierakonpolis no Alto Egito ou Buto no Baixo Egito.

    As atribuições dos Tjati eram as mais variadas possíveis, desde servirem como supremas cortes judiciais no caso de o julgamento dos Nomarcas não ser considerado adequado em algum caso, até ordens administrativas de menor importância relacionadas ao Reino. Com efeito, a própria existência do Tjati visava reduzir um pouco a já atribulada agenda do Faraó. Em tempos futuros, na época do Novo Império, passará a haver dois Tjati, um no Alto Egito que viria a viver em Tebas e um no Baixo Egito em Hiliópolis, sendo que, dependendo de onde o Faraó optasse por morar, ele poderia vir a ser controlado por um de seus Tjati. Este era o cargo de maior prestígio que poderia ser ocupado por alguém de origem popular, desde que, é claro, fizesse por merecer uma indicação do Faraó.

    Ser Tjati implicou, como veremos, em várias épocas, em mandar no Egito inteiro sem que seu nome fosse conhecido por muitos, uma verdadeira “Eminência Parda”.


    4.4.2 – A Agenda do Faraó:

    O Faraó era o único verdadeiro Sacerdote de todo o Egito, além de ser o chefe supremo dos exércitos e da política. Apesar de ser considerado um Semi-Deus, o Faraó era apenas humano e, como tal, jamais daria conta de exercer todas essas obrigações sozinho, sendo assim, utilizava-se de auxiliares.

    No caso da política, esse auxiliar era o Tjati, no caso dos exércitos, os Generais e no caso das funções religiosas eram os Sacerdotes.

    Dependendo das características pessoais do Faraó ele poderia optar por ser aproximar mais de uma ou de outra função. Portanto, houve Faraós que se empenhavam muito e pessoalmente em campanhas militares, outros que viajavam o Egito inteiro freqüentemente para fazer cerimônias religiosas nos mais diversos templos da nação e outros que preferiam se ocupar de ordens políticas, como construções e recrutamentos para trabalhos diversos.

    Estando presente o Faraó, era ele quem realizava o culto ao deus do templo, fosse este qual fosse, afinal, o Faraó era um Deus em essência, apesar de ser um homem na forma, o que lhe fornecia a atribuição de cultuar os seus iguais.

    Como Sacerdotes, os Faraós podiam entrar nas câmaras escuras onde residiam os Deuses representados por suas estátuas, podiam vê-las, unta-las e vesti-las, podiam dar-lhes de comer e orar a elas. Em sua falta, quem fazia estas tarefas eram os Sacerdotes, os homens indicados pelo Faraó, ou em nome dele, para realizar funções sacras. O mais interessante sobre os Sacerdotes é que eles eram funcionários do Estado e não necessariamente fiéis do Deus que eram incumbidos de cultuar. Ocorriam muitas vezes de Sacerdotes devotos de um Deus serem nomeados para o culto de um outro, o que não influenciava na qualidade do serviço do indivíduo, visto que fazia parte de suas obrigações para com a manutenção da Maat prezar pelo cuidado com as estátuas dos Deuses.

    De uma maneira um tanto aproximada, os Deuses originais de cada Spat continuaram sendo os Deuses principais daquelas comunidades para sempre, porém, a fama de alguns Deuses fazia deles campeões da fé nacional (como veremos mais adiante). O que é mais interessante é que aquelas entidades originalmente zoomórficas, com a deificação do Faraó (um humano), foram adquirindo formas intermediárias entre animais e homens, sendo assim, começam a surgir Deuse antropomórficos e ainda antropozoomórficos.


    4.4.3 – A Sucessão Real:

    Talvez por causa da atitude de Narmer de ter desposado uma princesa do norte, talvez por algum costume Neolítico mais obscuro, talvez por alguma tentativa de apaziguamento das populações do Baixo Egito perpetrada pelos Monarcas do Proto Dinástico, ninguém sabe ao certo, mas o fato é que a fórmula de sucessão ao trono desde os primórdios do Antigo Império seguiu praticamente inalterada até o final do Novo Império, sendo que alguns Faraós posteriores vieram a adota-la novamente como forma de legitimação de seus poderes.

    A fórmula não era tão simples quanto a tradicional primogenitura masculina Européia, ou seja, a forma de sucessão onde o mais velho filho homem do Monarca será o próximo governante. Entre os Egípcios, a sucessão Real era transmitida pelas mulheres, se bem que elas não pudessem legalmente ocupar o trono (ainda que em determinadas ocasiões o tenham feito).

    Para começar a exposição, precisamos explicar que apesar de a monogamia ser a regra na sociedade Egípcia, o Faraó, e apenas ele, estava livre para se casar com quantas mulheres quisesse. As mulheres do Faraó eram distribuídas em três categorias de importância: Concubinas, Esposas Secundárias e a Grande Mulher do Rei.

    Qualquer mulher que o Faraó desejasse, desde simples criadas, até uma camponesa, passando por escravas e até mesmo estrangeiras poderia ser uma Concubina. Essas esposas terciárias habitavam o harém do Faraó e eram verdadeiras escravas sexuais do Semi-Deus. Estavam sempre bem limpas e cuidadas estando à disposição do Faraó para saciar seus impulsos sexuais. Seus filhos muitas vezes se tornavam Oficiais, Escribas, Sacerdotes e Sacerdotisas, além de possíveis esposas (no caso de filhas) de Sacerdotes e dignatários de importância intermediária.

    Princesas estrangeiras, filhas de grandes Sacerdotes e dignatários, esposas do Faraó morto, dentre outras mulheres de grande ou relativa importância poderiam vir a se tornar Esposas Secundárias do Faraó. De fato, os Faraós utilizavam este tipo de casamento como política de alianças e como chances de diversificação das chances de possuírem um filho homem. Porém, não devia haver muitas Esposas Secundárias, talvez um número aproximado de dez apenas. Filhas dessas mulheres estavam destinadas a se casarem com seus irmãos, com altos funcionários, como o Tjati, com Reis estrangeiros ou ainda a se tornarem Sacerdotisas de grandes templos do Egito. Os Filhos dessas Esposas Secundárias do Faraó poderiam vir a se tornar os novos Faraós, ou ainda altos Sacerdotes, Generais, chefes de colônias mineradoras estrangeiras (como no Sinai e na Núbia) e, mais tarde, Vice-Reis de importantes regiões submetidas.

    A Grande Mulher do Rei era apenas uma, muitos autores se referem a ela como sendo a Rainha do Egito, mas isso é um erro, pois o seu título não a nomeava dessa forma. Sua procedência é controversa, sabe-se, no entanto, que Faraós poderosos como Amenófis III casaram-se com mulheres de origens não dignas e elevaram-nas à condição de sua Grande Mulher. Acredita-se que originalmente a Grande Esposa do rei devesse ser necessariamente uma princesa do Baixo Egito, sendo assim, ela poderia ser de linhagem estrangeira (descendente dos Acadianos), ao menos no Antigo Império. Caso ela tivesse filhos homens, uma deles (usualmente o mais velho) seria o novo Faraó, no entanto, caso ela só viesse a ter filhas, o indivíduo que viesse a desposar a mais velha delas seria o novo Faraó.

    Por essa razão os Faraós costumavam preparar seus escolhidos como sucessores (usualmente um filho de uma de suas Esposas Secundárias) para estarem aptos a ocupar o cargo quando chegasse a hora e entre essas preparações constava o casamento do herdeiro com a filha mais velha do Faraó com sua Grande Mulher. Essas precauções eram tomadas para que no momento de perturbação de Maat advindo da morte do Faraó, nenhum oportunista forçasse seu casamento com uma das princesas e, dessa forma, se tornasse o novo Faraó.

    Caso a Grande Mulher do Rei não tivesse nenhum filho, o novo Faraó seria aquele que com ela se casasse após a morte de seu marido. Com efeito, no Egito Antigo eram as mulheres que portavam o poder Real e os desígnios da Maat faziam com que um determinado indivíduo se casasse com elas e, dessa forma se mostrasse como sendo o eleito dos Deuses para ser o novo Faraó, para ser o Deus Vivo do Egito.

    Mas se as mulheres transmitiam o poder Real, como as Dinastias mudavam?

    Bem, Dinastias podiam mudar de várias maneiras, ataques, golpes de Estado... Porém, o modo mais usual era quando o Faraó morria sem deixar filhos homens, sendo assim um indivíduo que não pertencia à linhagem Real desposava a filha mais velha da Grande Mulher do Rei e se tornava Faraó. É bom, no entanto, que se tenha em mente que quem dividiu a História do Egito em XXXI Dinastias foi Mâneton, sendo assim é muito pouco provável que os Egípcios tivessem essa noção de continuidade e descontinuidade de governantes, só o que sabiam era que seu Semi-Deus os estava governando.


    4.4.4 – Os Símbolos do Poder Faraônico:

    Como já mencionei no item sobre o Escorpião-Rei, os principais símbolos de poder do Egito eram as duas coroas: a branca do Alto Egito e a vermelha do Baixo Egito. No entanto, não eram esses os únicos símbolos de poder daquela civilização que se encontravam nas mãos do Faraó.

    A coroa branca e a coroa vermelha eram os mais antigos símbolos de poder do Egito tendo sido estabelecidas na época do Período Pré-Dinástico. Talvez fossem os símbolos de poder dos Spat que unificaram respectivamente o Alto e o Baixo Egito. Quando da unificação nacional, ambas caíram nas mãos de um só indivíduo e, ao invés de serem substituídas por uma terceira coroa, foram brilhantemente fundidas numa só, aliás, as duas coroas se encaixavam perfeitamente fazendo uma terceira coroa.

    As influências semíticas nas tradições Egípcias são muito visíveis, por exemplo, um dos principais símbolos de poder dos Faraós era uma longa barba falsa presa a seu queixo, um símbolo de sabedoria e, por conseguinte, poder oriundo das tradições semitas.

    Como o Faraó era ao mesmo tempo um bom pastor que guiava seu povo segundo os desígnios da Maat e um Deus punidor capaz de castigar quaisquer indivíduos que fossem merecedores de tal punição, ele utilizava em uma das mãos um cajado de ponta curva, como aqueles utilizados pelos pastores de ovelhas; e na outra mão um mangual como o utilizado pelos guerreiros nos campos de batalha para massacrar seus inimigos.

    Com a expansão militar do Egito ao longo do Antigo Império e a participação do Faraó em campanhas militares, ele precisaria de um capacete que o protegesse de possíveis ataques nos combates, mas que também demonstrasse perante seus súditos que ele era o Faraó. Este capacete foi criado por volta do final da II Dinastia e concentrava em si o poder militar de todo o Egito. Ele era azul com listras douradas, talvez de ouro, além de possuir fitas de linho presas em sua parte posterior.

    Outro símbolo de poder era o rabo de touro que o Faraó utilizava atado à sua cinta em ocasiões especiais, os especialistas ainda não conseguiram chegar a um consenso sobre a função simbólica deste ícone, mas, possivelmente ele está relacionado à característica de pastor (condutor) que o Faraó possuía, algo semelhante ao cajado de pastor por ele portado.

    Talvez o mais conhecido símbolo do poder Faraônico eram toucas de linho rijo com fios de ouro, normalmente vermelhas ou azuis que o Faraó utilizava sobre a cabeça quando estava em seu palácio, visto que ele nunca era visto em público com a cabeça descoberta (por razões que serão explicadas mais adiante neste mesmo sub-item).

    Por fim, o Faraó possuía dois Nems, espécie de coroa que ele utilizava sobre a cabeça. Uma delas possuía as insígnias do Baixo Egito (duas enormes penas erguidas) e a outra possuía as insígnias do Alto Egito (um chifre de carneiro encerrando um disco solar).

    Salvo pela exceção das coroas do Baixo Egito e Alto Egito e da coroa militar, todos os demais pertences podiam ser sepultados junto com o Faraó. Porém, as três coroas, por representarem o Egito, deveriam permanecer na atividade sendo transferidas de Faraó para Faraó. É possível que só tenha havido um único exemplar de cada uma delas ao longo de toda a História Egípcia, no entanto, nenhuma delas jamais foi encontrada.

    Em todas as coberturas de cabeça utilizadas pelo Faraó havia uma serpente pendendo sobre a testa do Monarca. Acreditava-se que caso alguém se aproximasse muito dele sem ser convidado a serpente o fulminaria com um fogo venenoso. Além disso, qualquer um que tocasse ou fosse tocado pelo Faraó morreria instantaneamente por ter tocado o próprio Sol. A única maneira de evitar a morte numa ocasião dessas era obter o perdão do Faraó. Apenas em ocasiões muito especiais o Faraó permitia que indivíduos ilustríssimos se prostrassem perante ele e beijassem seus pés.

    Havia Sacerdotes especialmente designados para manter as pessoas longe do Faraó, esses Sacerdotes, devido à proximidade que mantinham com o governante do Egito, precisavam se purificar constantemente com banhos para evitar sua própria ruína.


    4.5 – Razões para a Desintegração do Antigo Império:

    Ao longo de quatro Dinastias o Egito cresceu, se expandiu e dominou outras regiões. O comércio com países distantes como Punt, Fenícia e Creta trouxe artigos nunca antes vistos no Vale do Nilo, além de mercenários e escravos das mais diversas etnias. A introdução do cobre inseriu o Egito, ainda que tardiamente, na Idade dos Metais e o poder dos Faraós só fez crescer, sendo que a IV Dinastia foi seu período de maior esplendor em todos os tempos.

    Dentro de um contexto de tanta pujança é difícil pensar que o Egito pudesse entrar em decadência. Muitos Historiadores têm se questionado sobre a razão que teria feito com que o Antigo Império se desagregasse. Porém, dada a distância no tempo em que se encontram os fatos é muito difícil precisar alguma coisa. Em termos gerais, três grandes teorias se mostram as menos imperfeitas acerca de tal desintegração. Vejamos as três:

    Segundo alguns estudiosos, a razão para a bancarrota do Antigo Império teria sido o longo governo de Pepi II (Neferkará Phiops II), que, segundo alguns, teria durado mais de 90 anos. Para estes pesquisadores, o fato de um Faraó governar tanto tempo teria comprometido a política militar, uma vez que para eles apenas o Faraó poderia liderar expedições punitivas e conquistadoras, sendo assim, devido ao grande período de senilidade pelo qual teria passado Pepi II, essas expedições teriam deixado de ocorrer o que teria ocasionado a perda das colônias da Núbia e do Sinai, bem como um fortalecimento demasiado dos Líbios, dessa maneira, quando o Faraó morreu, seu sucessor não teria sido forte o suficiente para combater as investidas Líbias e o Antigo Império teria entrado em colapso. Para agravar a situação, Pepi II teria vivido mais do que seus filhos e esposas, sendo assim, teria morrido sem deixar herdeiros legais, o que acarretou numa mudança de Dinastia e, por
    conseguinte, na ascensão de um Monarca sem legitimidade ou ainda, quiçá, no início de disputas Dinásticas que teriam corroído o Reino de dentro para fora.

    Essa teoria pode ser convincente, mas há nelas alguns problemas, por exemplo, um dos mais fortes indícios para se crer que Pepi II viveu tanto são as listas de Mâneton (que já foram mencionadas), no entanto, como já foi dito, no que se refere às seis Dinastias do Antigo Império, Mâneton prolonga em demasia os governos de modo a conseguir fazer com que a História do Egito remonte ao século XCV a.C., ao invés do século XXXI a.C, como se pensa hoje. Outro motivo é que se alega que uma estela datada do governo de Pepi II confirmaria o longo governo daquele Faraó, no entanto, se analisarmos a própria História do Egito, veremos que no Novo Império, o Faraó Horemheb (último governante da XVIII Dinastia) fez com que os nomes de seus quatro predecessores (Aye, Tutankhamon, Smenkhare e Akhenaton) fossem riscados do mapa, dessa forma, seu primeiro ano de governo foi legalmente seu trigésimo. Caso este Faraó tivesse governado por trinta anos mais, teríamos um governo de
    sessenta anos. É claro que no caso de Horemheb, sua farsa foi descoberta pelos Egiptólogos, porém, ele Reinou quase mil anos depois de Pepi II, sendo assim, muito mais vestígios nos restam dos tempos de seu governo. É muito possível e provável que Pepi II, seja por que motivo for (no caso de Horemheb, como veremos, foi pra apagar da História o Período de Amarna, comandado por Akhenaton), tenha querido alongar seu tempo de governo e, sendo assim, talvez tenha mandado suprimir da História o governo de um ou mais Faraós ganhando vários anos para seu governo e conseqüente glória. Dou essas afirmações como certas pelo fato de a expectativa de vida média dos habitantes do Egito Antigo não ser superior a 45 anos. É verdade que as condições de vida do Faraó eram as melhores possíveis, mas também é verdade que mais do que dobrar a expectativa de vida média de uma população é algo muito difícil, para se ter uma idéia, um brasileiro que conseguisse a proeza de Pepi II teria que viver
    ao menos 150 anos. Como disse uma vez ao jornalista Roberto Navarro da Revista Super Interessante, em entrevista; acredito que seja pouquíssimo provável, senão impossível, que Pepi II tenha vivido tanto, sou muito mais propenso a pensar que seus infindáveis anos de governo se tratem de uma fraude Histórica ainda não descoberta.

    Agora que já desmistifiquei o longo governo de Pepi II, resta-me a árdua tarefa de explicar porque então o Antigo Império entrou em desintegração e acabou ruindo tão rapidamente.

    Antes de começar a expor minhas teorias, gostaria de dizer que elas não são minhas, mas apenas duas das teorias a que tive acesso em minha pesquisa. Não as considero perfeitas, mas, tão somente, as melhores dentre as que pude ler.

    Alguns pesquisadores, apoiados em dados climáticos passados (não me perguntem como tais cálculos são feitos, não entendo nada de astronomia, geologia e coisas do gênero) chegaram à conclusão de que houve um período de leve resfriamento no centro da África por volta do final do século XXIII e início do XXII a.C.. Este resfriamento não foi significativo a ponto de se tornar perceptível para as populações que habitavam as margens do Nilo, no entanto, foi o suficiente para reduzir o fator de degelo das montanhas onde nasce aquele que é tido como o mais extenso rio do mundo. Graças a esse degelo diminuto, as cheias de vários anos a fio não foram suficientes para sustentar a agricultura necessária para a manutenção do Egito e, sendo assim, uma crise iniciou-se.

    Com os armazéns vazios, o Faraó não teve escolha senão suspender o envio de comida para as colônias mineiras do Sinai e da Núbia, além disso, expedições militares se tornavam inviáveis, por demandarem provisões em estoque. Sem comida e sem ouro, o comércio internacional também naufragou e, dessa forma, o Egito começou a regredir.

    Naturalmente, esses desequilíbrios climáticos provocaram o caos e foram vistos como um forte abalo na Maat, sendo assim, o poder do Faraó começou a ser contestado. Aliado a isso, talvez esteja o fato de Pepi II ter vivido muito (não os quase cem anos que lhe são atribuídos, mas ainda assim, muito), o que pode tê-lo deixado sem herdeiros, sendo assim, quando este veio a falecer, uma luta sucessória pode ter sido desencadeada (como falaremos mais adiante) essa luta aliada às invasões do Delta pelos Líbios que já não eram combatidos em suas terras, fez com que o poder dos Nomarcas voltasse a crescer e, sendo assim, os Spat voltaram a ser independentes na prática e cada Nomarca voltou a ser uma espécie de pequeno Rei.

    A outra teoria, a que considero a melhor e, portanto, a que deixei por último, não associa a derrocada do Antigo Império a um rápido período ocorrido na VI Dinastia, mas sim, a um longo processo Histórico iniciado na gloriosa IV Dinastia. Segundo essa teoria, os Monarcas da IV Dinastia, por se sentirem tão divinos quanto a população julgava que fossem, teriam desenvolvido práticas protecionistas em relação a família Real. Dessa forma, todos os cargos públicos importantes passaram a ser ocupados por pessoas dessa família, talvez para evitar, como havia ocorrido na III Dinastia, que um indivíduo de origens populares como Imhotep (do qual falaremos mais adiante) ascendesse a cargos que lhe proporcionassem uma futura deificação.

    Talvez como forma de garantir que sua família fosse perpetuada na condição de grande soberana do Egito para todo o sempre; os Faraós da IV Dinastia desenvolveram uma revolução religiosa (que será pormenorizada no item específico). Essa revolução consistiu basicamente em intensificar o culto a uma divindade antiga: Ra, de Heliópolis.

    Ra, o Deus Pássaro, era tido como pai de Hórus (se bem que como veremos, este Deus também era filho de Osíris), o Deus Falcão da Realeza e, sendo assim, seu clero passou a ser imposto como o principal clero do Egito, coisa que até então nunca havia acontecido. O acesso ao clero de Ra só era permitido aos membros da família Real e, sendo assim, por esse subterfúgio, eles podiam permanecer no controle de todos os aspectos da sociedade, com seus pares legitimando suas ações.

    No entanto, o que inicialmente pareceu uma boa idéia, logo se mostrou ruim, visto que a procedência Real dos Sacerdotes de Ra fazia com que suas reivindicações possuíssem muito mais legitimidade do que a de quaisquer outros indivíduos, sendo assim, o Faraó passou a doar terras para o clero de Ra, o que fez com que ele se tornasse extremamente poderoso.

    Com o fim da IV Dinastia e a ascensão da V, o clero de Ra continuou dominado pelos descendentes da antiga Dinastia Reinante e, sendo assim, como já não viam seus parentes sentados no trono de Mênfis, começaram a utilizar seus poderes políticos (advindos das terras dos templos que lhes haviam sido doadas pelos Faraós da IV Dinastia) e sua força religiosa para pressionar o poder central. Em pouco tempo, o Faraó, que antes era o Hórus vivo, ou seja, um Deus, passou a ser visto como o filho de Ra, ou seja, o filho de um Deus, o que diminuiu seu status. Isso explicaria o fato de na V Dinastia a construção de pirâmides ter declinado (com a diminuição do tamanho e da importância devotadas a essas construções) e a construções de templos e obeliscos (estes eram os tronos de Ra na Terra, onde ele se sentava todas as manhãs, com o nascer do Sol) a Ra ter se intensificado.

    Visando consertar essa situação, os Faraós da VI Dinastias passaram a favorecer os Nomarcas, visando adquirir uma forte base de sustentação política que lhes permitisse suplantar o poder do clero de Ra. Porém, essa tentativa teria sido o último erro dos Monarcas do Antigo Império, uma vez que os recursos destinados a financiar a expansão eram agora doados aos Nomarcas. Estes, por sua vez, ao invés de garantir sustentação política ao Faraó, se fizeram, aos poucos, pequenos Reis em seus próprios Spat, alguns, se fazendo adorar entre seus subalternos, como verdadeiros Deuses. O Faraó viu seu poder ruir e aí talvez entre o longo governo de Pepi II, que, por ter visto o Faraó morrer sem deixar herdeiros legítimos, teria precipitado uma crise que já se arrastava lentamente desde o período de maior poder dos Faraós do Antigo Império.




    4.6 – Práticas Funerárias do Antigo Império:

    Durante todo o Antigo Império a capital do Egito foi a cidade de Mênfis e, em suas proximidades existe uma região conhecida como Sakkara. Nesta região, desde os primórdios da I Dinastia, os Faraós eram enterrados em suas mastabas (como já foi mencionado). Sakkara acabou por se transformar numa espécie de Necrópole, a primeira do Egito Antigo.


    Com o tempo os Faraós construíam suas mastabas e, ao seu redor, mastabas menores eram erigidas para seus asseclas mais próximos.


    Não se sabe ao certo com que intuito (se bem que isso será discutido mais adiante), mas provavelmente com o de demonstrar sua grandeza, o segundo Faraó da III Dinastia: Djeser (de quem já fiz alguns comentários), incumbiu seu Arquiteto Real de construir um túmulo piramidal.




    Ao contrário do que se pensa, os Egípcios não eram grandes matemáticos (ao menos não até Euclides, no século IV a.C., mas mesmo este não era Egípcio, mas Grego radicado em Alexandria), sendo assim, suas obras arquitetônicas monumentais se tornam ainda mais maravilhosas.



    Pirâmide de Imhotep
    A pirâmide de Djeser, por exemplo, foi construída por Imhotep (sim este é o indivíduo que inspirou o filme “A Múmia”, se bem que seu comportamento e sua história nada tenham em comum com os do personagem monstruoso do cinema hollywoodiano) à partir de cálculos simples apoiados por tentativas. Esta pirâmide, também chamada de pirâmide de mastabas foi a primeira do Egito e consistiu basicamente de uma pilha de cinco mastabas em tamanho decrescente.


    Estátua de Imhotep



    O Imhotep do cinema ("A Múmia")
    A fama alcançada por Imhotep devido à construção da pirâmide foi tamanha que ele se tornou popularmente conhecido como o homem mais sábio do Egito, sendo considerado um grande arquiteto, médico e mágico. Quando faleceu, passou a ser cultuado como Deus da Cura, tendo seu culto resistido até o Período Ptolomaico. Ele foi realmente o criador da medicina Egípcia, além de ser o inventor dos tetos sustentados por colunadas, técnica que depois seria exportada do Egito para a Grécia e se tornaria a principal marca arquitetônica daquela civilização.




    A Necrópole de Sakkara logo começou a ser povoada por pirâmides sendo que dentro em breve o modelo escalonado (ou de mastabas) criado por Imhotep foi ultrapassado. Ao redor das pirâmides continuavam a se amontoar as mastabas dos dignatários ligados ao Faraó e a maior honra que alguém poderia receber (em geral concedida a Nomarcas que houvessem prestado serviços relevantes) era a concessão de uma mastaba ao lado da pirâmide Faraônica.

    A idéia de culto ao Faraó ganhou mais força ao longo da III Dinastia chegando ao seu ápice durante a IV. Nesta época, quando um Faraó morria, seu corpo era sepultado em Sakkara, mas uma estátua sua era erigida em Abidos onde ele seria cultuado para todo o sempre.









    4.6.1 – As Glórias da IV Dinastia:

    Sem exageros a IV Dinastia pode ser considerada como sendo aquela em que o poder dos Faraós mais foi grande, além disso, também é a Dinastia que construiu as obras mais impressionantes da História Egípcia.




    A Dinastia se inicia com Snefru chegando ao trono por se casar com a filha do Faraó Huni (último governante da III Dinastia que morreu sem deixar filhos homens). Em seu governo, Snefru construiu nada menos do que três pirâmides. Na verdade, concluiu a pirâmide deixada incompleta por seu sogro e construiu mais duas: a Pedra do Sul (a famosa pirâmide inclinada) e a Pedra do Norte (a primeira pirâmide no estilo tradicionalmente conhecido), ambas em Dahshur.




    A Pedra do Norte era a maior pirâmide construída até então e foi a primeira a se parecer com aquilo que nós hoje entendemos por pirâmides. Isso porque Snefru teve a idéia de mandar preencher os degraus externos de sua pirâmide para dar a ela um visual mais suave e retilíneo (de acordo com a Maat, como ela se expressa na arte Egípcia).




    O filho de Snefru, Khufu (mais conhecido como Quéops) levou a construção de pirâmides ao auge de seu esplendor. Sua pirâmide (construída no planalto de Gizé) levou mais de vinte anos de trabalho de cerca de cem mil homens para ficar pronta, mas é a maior maravilha do Egito Antigo tendo consumido mais de 2,3 milhões de blocos de pedra (para se ter uma idéia do volume de tal pirâmide, basta saber que se ela fosse transformada em cascalhos, seria possível construir com esse produto uma estrada de duas pistas e trinta centímetros de espessura que saísse Monte Caburaí (na Amazônia) e fosse até o Arroio Chuí (no Rio Grande do Sul), ou seja, que cortaria o Brasil inteiro). E não é só, a pirâmide era recoberta por uma cobertura calcária de Tudra que brilhava ao sol e sobre tal cobertura estavam gravados milhares de hieróglifos (hoje já não existem tais inscrições que foram destruídas e/ou roubadas por Cristãos, Muçulmanos e pretensos magos ao longo dos séculos, no entanto, no
    século XII d.C., o escritor Árabe Abd el Latif escreveu que os hieróglifos que ainda recobriam a pirâmide seriam suficientes para preencher mais de dez mil páginas de livros). O que estava escrito na Grande Pirâmide de Quéops? Nunca saberemos...




    A pirâmide de Quéops




    Agora imaginemos como deve ser difícil construir algo de tamanhas proporções sobre as instáveis areis do deserto. Bem, agora que já pensamos nisso e uma vez que já sabemos que os Egípcios não eram exímios matemáticos, como explicar que a Grande Pirâmide esteja situada sobre um chão cuja margem de erro em relação à horizontalidade perfeita é de apenas 0,004%?




    Agora vejamos, será mesmo que é possível conceber a construção de edifícios tão complexos quanto as Grandes Pirâmides num tempo tão recuado e com uma matemática tão pouco avançada? Bem, para muito isso não parece razoável e é justamente daí que surgem teorias como as de Erich von Däniken, que atribuem construções como as Pirâmides a seres extra-terrestres, ou ainda teorias como as que falam sobre Atlântida e outras civilizações perdidas muito mais antigas do que as mais antigas civilizações de que se tem notícias e que de tão avançadas teriam inspirado toda a evolução subseqüente do mundo.

    Esquema de um corte lateral na Pirâmide de Quéops, com seus caminhos internos e câmaras mortuárias secretas


    Essas teorias são, em sua grande maioria, completamente infundadas, mas não resta dúvida que existem muitas passagens obscuras na História da Humanidade, ainda mais se levarmos em conta que toda a História posterior à Antigüidade conta apenas pouco mais de um quarto da duração de tempo que aquele período teve sozinho, ou seja, tempo para que coisas acontecessem e fossem esquecidas houve, especialmente se levarmos em conta que não havia meios de comunicação eficientes como os de hoje. Não estou, é claro, falando em alienígenas ou mesmo em civilizações antigas mais desenvolvidas. Estou apenas deixando um ponto em aberto, algo que, a meu ver não deve ser abandonado como falso na medida em que não se pode prova-lo como tal, mas que também não deve ser aceito como verdadeiro pela mesma razão, deve apenas ser deixado em aberto.


    Mas, depois dessa digressão, voltemos a falar das Grandes Pirâmides. Elas foram construídas por Khufu (Quéops), Khafre (Quéfren) e Menkaure (Miquerinos) e, segundo algumas teorias tidas como mais sérias, poderiam ter feito parte de uma espécie de programa estatal de combate ao desemprego gerado pelo “boom” populacional dos primeiros anos do Antigo Império.


    É claro que tais teorias têm que ser compreendidas dentro da ótica de seus teóricos, pessoas que aceitam como verdadeira a “Hipótese Causal Hidráulica” e que, dessa forma, entendem que depois da centralização do poder o Egito teria atingido o estágio necessário para começar a explorar os recursos do Nilo, coisa que, segundo a teoria adotada neste texto, o Egito já fazia muito tempo antes da unificação, mais precisamente, desde os tempos dos Spat.

    Seja como for, essas três pirâmides demandaram muito tempo e mão-de-obra para serem construídas e construções tão bem acabadas não podiam ser feitas com quatro meses (o Período da Inundação) de trabalhos anuais apenas, mas necessitavam de trabalhos constantes, sendo assim é quase certo que houvesse um grupo de trabalhadores altamente qualificados que fosse contratado do Estado em tempo integral para organizar a obra e montar sua infraestrutura, sendo que durante o Período da Inundação esse grupo era reforçado por legiões de trabalhadores.

    Quanto ao fato de escravos terem sido utilizados na construção das pirâmides, essa hipótese já está totalmente descartada. Isso porque tanto a população pagava seus tributos ao governo em trabalhos, quanto a construção de um local de repouso eterno para o Semi-Deus se tratava, antes de tudo, de um ato de fé, o que certamente arrastava muitos trabalhadores de livre e espontânea vontade, em busca da garantia de suas próprias vidas após a morte, uma vez que a do Faraó fosse assegurada.

    Pirâmide de Quéfren, com a Esfinge à frente


    Esquema interno da Pirâmide de Quéfren


    Esquema interno da Pirâmide de Miquerinos







    No que se refere aos processos de construção, o que mais se acredita possível é que houvesse uma espécie de moldura arredondada de madeira que era encaixada nas laterais das rochas de modo a faze-las aptas a rodas. Porém, outra teoria forte era a de que uma espécie de tapete era colocada sob a rocha e o chão por onde este iria deslizar era molhado para facilitar o deslocamento, sendo assim, a rocha seria arrastada do porto onde desembarcava (sim, porque o grosso do trajeto era feito de barco pelo Nilo) até o local da construção. Os que defendem esta teoria o fazem por dizer que as rodas afundariam nas areias, o que dificultaria ainda mais o transporte, além disso, eles também dizem que antes do Novo Império, quando da introdução das bigas, não há indícios da utilização da roda no Egito, visto que todo o transporte era realizado pelo Nilo, não havendo nem sequer estradas. A acomodação das pedras era, com certeza o processo mais trabalhoso, visto que não havia qualquer tipo
    de guindaste, sendo assim, para cada novo andar seria necessária a ampliação da passarela de acesso que era desmontada tão logo a pirâmide estava concluída. É ainda possível que se utilizasse um modo de construção destacado na Grécia, ou seja, o modo de ser ir enterrando o andar que estava pronto para se ter acesso aos níveis mais altos através de um andaime natural de areia. Por fim, quando a construção ficava pronta, desenterrava-se o edifício dando-lhe seu acabamento.





    Vista externa da Pirâmide de Miquerinos





    4.6.2 – Os Enigmas da Esfinge:

    Se as Pirâmides de Gizé foram consideradas por Antípatro de Sídon, no século II a.C. como uma das Sete Maravilhas do Mundo, a Esfinge certamente não o foi por estar, à época da passagem do Grego pelo Egito, coberta pelas areias do deserto, como, aliás, ela esteve por vários períodos da História do Egito. Existe uma inscrição encontrada em sua capela (entre suas patas, como será explicado mais adiante) que diz que o Faraó Tutmés IV a desenterrou das areias onde jazia há muito tempo.





    A Esfinge
    A Esfinge é uma grande estátua antropozoomórfica, com corpo leonino e feições humanas cuja presença está inserida no contexto do complexo funerário da Pirâmide de Quéfren, inclusive com uma espécie de avenida ligando-a a pirâmide. Ela foi esculpida naquilo que é o cume de uma montanha recoberta pela areia, sendo assim, não foi necessário transportar toneladas de pedras de lugares distantes para o Planalto de Gizé. Até aí, nenhum mistério, nenhum enigma.


    No entanto, como sempre sucedeu com tudo o que se refere ao Egito Antigo, a Esfinge sempre esteve cercada de especulações científicas e pseudo-científicas a respeito de tudo, desde sua origem até seu propósito, passando pelos padrões de erosão de sua superfície.



    Para começo de conversa, existem os rumores de que é possível entrar dentro da Esfinge, ou seja, de que existem câmaras internas dentro da estátua. Na realidade, nunca ninguém encontrou (ou ao menos divulgou ter encontrado) uma entrada para a esfinge, contudo, exames de densidade da rocha e de ressonância comprovam que de fato há galerias internas e o que é mais intrigante: cheias d’água. Alguns especialistas explicam o fenômeno de forma simples, dizem que existem cavernas dentro da montanha no topo da qual a Esfinge foi esculpida e que tais cavernas estariam cheias d’água por uma dessas duas razões: ou seria apenas um braço do lençol freático, ou seria a conseqüência de uma suposta prática do Egito Antigo de encher com água o recinto da Esfinge de modo que esta ficasse apenas com a cabeça fora d’água. Esta água teria se infiltrado e se acumulado nas galerias internas estando impedida de evaporar e permanecendo lá até hoje.




    É bem verdade, no entanto, que escavações realizadas entre as patas da Esfinge encontraram uma espécie de capela abarrotada de estelas de Faraós, aliás, numa dessas estelas aparece o nome Khaf, primeira sílaba de Khafre (Quéfren), o que serviu como reforço indelével para a teoria de que este Faraó teria sido o responsável pela construção da Esfinge, no entanto, o que muitos não levam em consideração é o fato do nome estar incompleto e não estar envolto na Cártula Real (espécie de circunferência oval que contornava os nomes dos Faraós Egípcios). Além disso, o texto em que esse nome aparece não indica que este indivíduo construiu a Esfinge, mas sim que construiu algo para o Deus Aton-Harmakhis (também chamado de Ra-Horemkhat), ou seja, a Esfinge (uma vez que se acredita que a Esfinge seja a representação do deus solar), o que pode indicar apenas que tenha construído uma imagem, ou mesmo a própria estela, para a Esfinge.


    Seja como for, existem videntes e profetas que alegam que dentro das galerias da Esfinge estariam papiros com informações sobre o destino do mundo e que das duas uma: ou esses papiros ainda estão por ser encontrados e, sendo assim, por trazer suas informações para a humanidade, ou já foram encontradas e hoje constam dos arquivos secretos de alguma antiga potência colonialista Européia (ou mesmo dos EUA).


    O que fica de realmente instigante nessa especulação é a necessidade de se saber o que há realmente dentro das galerias da Esfinge e se elas são naturais ou não.


    Outra interessante teoria sobre a Esfinge diz respeito aos padrões de erosão encontrados em sua superfície. Há algum tempo, em 1991, um renomado Professor de Geologia da Universidade de Boston chamado Robert Schoch, a pedido e patrocínio do esotérico John Anthony West (indivíduo extremamente mal quisto entre os Egiptólogos tradicionais, por defender, desde os anos 70, teorias de que Atlântida realmente existiu e de que uma civilização perdida de Marte teria influenciado a evolução da civilização na Terra), estudou os padrões de erosão da estátua (que mede 73,15m de comprimento por 20m de altura) e chegou à conclusão de que eles só poderiam ter sido causados por água. Essa conclusão gerou frisson entre os Egiptólogos, uma vez que os índices pluviométricos dos últimos 4000 anos não seriam suficientes para causar tais erosões. Novamente falou-se da teoria de que se enchia o recinto da Esfinge de água deixando-a apenas com a cabeça para fora o que, aliás, explicaria o fato de
    a cabeça ser bem menos erodida do que o resto do corpo da estátua. Houve diversas discussões e o Professor Schoch acabou propondo que uma piscina de águas paradas não seria suficiente para causar aquelas erosões, sendo assim, o impasse estava criado.


    As teorias do geólogo Americano, reforçadas pelas dos dois gurus, Adrian Gilbert e Robert Bauval, autores do livro “The Orion Mystery” (que não trabalharam junto com ele, mas que também formularam teorias (estas Astrológicas (e não Astronômicas)) para o recuo da data da construção da Esfinge), chegaram à conclusão de que o padrão de erosão seria resultado de chuvas torrenciais que teriam varrido o Egito entre 10500 e 7000 a.C. (é bom que se saiba que para alguns as chuvas teriam começado a escassear por volta de 9500, como foi mencionado no início do texto, mas talvez só tenham realmente se encerrado por volta de 7000). O problema é que esta data se situa, pelo menos, mais de 4500 anos antes da data tida como sendo a da construção da Esfinge por Quéfren. Choveram então hipóteses que iam desde a associação da Esfinge com a Atlântida, como as divulgadas amplamente pelo esotérico Graham Hancock, até uma aceitação das datações de Mâneton para a cronologia da História do
    Egito. Porém, outro renomado geólogo, Dr. James Harrell, da Universidade de Toledo, na Espanha, lançou uma teoria que contrapunha a do primeiro: segundo ele, os padrões de erosão da Esfinge se dão (e aumentam diariamente por esse mesmo motivo) por causa do sereno, pois como a Esfinge fica relativamente próxima ao Nilo, o sereno noturno é úmido. Ele se infiltra nas camadas mais externas e porosas da rocha e, com o amanhecer, que o esquenta e transforma em vapor, vai embora. Porém, a expansão da água se gaseificando dentro da rocha provoca leves erosões, o que acarreta no desprendimento de pequenas lascas de rocha da Esfinge diariamente.


    Certo, muitos dirão, mas e quanto à cabeça? Por que ela não é erodida da mesma forma que o restante do corpo?


    Bem, para pensarmos nisso temos que antes pensar em outro problema em relação à Esfinge. Muitos dizem que não foi Quéfren quem a construiu, afirmam que ela é mais antiga do que as Pirâmides e que foi sua localização que determinou a escolha do local para a construção destas. Estas teorias são as mais bem fundamentadas dentre todas, talvez até estejam corretas, pois vejamos:


    A cabeça da Esfinge é desproporcionalmente pequena em relação ao restante do corpo da estátua. Isso leva a crer uma das duas coisas: ou seus escultores não tinham muita noção de proporção, o que parece um absurdo quando se está fazendo referência ao mesmo povo capaz de construir as Pirâmides, ou então, a cabeça é propositalmente menor do que o corpo. Agora vejamos, segundo as teorias mais aceitas, a cabeça da Esfinge representa o Faraó Quéfren (se bem que o investigador de polícia Americano Tem. Frank Domingo, especialista em comparação de retratos falados, tenha comparado seu rosto com uma outra escultura de Quéfren (esta com o nome do Faraó) e chegado à conclusão de que se tratam de pessoas diferentes, no entanto, a Esfinge, como todos sabem, não tem nariz, o que torna uma comparação muito difícil) e se isso for verdade, então por que justamente a parte da estátua que deveria ser (segundo os próprios padrões da arte Egípcia) maior por representar o Faraó é menor?


    Talvez a resposta esteja no fato de a Esfinge ser realmente mais antiga do que as Pirâmides, talvez ela estivesse escondida debaixo das areias e tenha sido encontrada na época de Quéfren, o que o fez eleger o Planalto de Gizé para construir sua Pirâmide. Como o Faraó desejava ligara a estátua recém-encontrada ao seu complexo funerário, ele pode ter mandado reesculpir o rosto da Esfinge (fosse ele qual fosse) segundo o seu próprio, o que explicaria o fato dele ser desproporcionalmente pequeno em relação ao corpo.


    Existe a história de uma expedição que se perdeu no deserto da Líbia a década de 20 do século XX d.C. e que depois de ter retornado para o Cairo contou que teria avistado, em meio a uma tempestade de areia, uma Esfinge que não a do Planalto de Gizé, mas com proporções semelhantes. Essa história é tida como uma invenção por muitos, mas o fato é que os caravaneiros nunca ganharam renome com ela e também que ela nunca foi pesquisada mais profundamente. Alguns poucos a pensar sobre ela chegaram à conclusão de que se ele for verdadeira, então poderia haver diversas Esfinges espalhadas pelos desertos próximos ao Nilo e elas poderiam ter uma espécie de função de defesa do território. Se isso for verossímil (o que não parece ser) talvez a Esfinge de Gizé seja apenas uma das muitas Esfinges que podem haver soterradas por entre os mares de areia do Saara oriental.


    É interessante lembrar que em seu livro “Civilizações que o Mundo Esqueceu”, o Dr. Aurélio Medeiros Guimarães de Abreu, Professor de Antropologia das Faculdades Santo Amaro e da Fundação Cásper Líbero, nos diz que em 1952 uma expedição comandada por Taminarakus, oficial responsável pelo Museu do Cairo na época, seguindo os relatos do viajante Omar el Hawari, teria descoberto, numa região hoje pertencente à Líbia (e, por conseguinte, inacessível a novas pesquisas, por este governo, segundo o Dr. Abreu, não permitir a presença de pesquisadores estrangeiros em seu território), uma Esfinge ainda maior que a de Gizé. Esta descoberta, ainda segundo o Dr. Abreu, viria a confirmar a informação supostamente descoberta num papiro de 900 a.C., e encontrada em 1943, que fazia referência a seis Grandes Esfinges Guardiãs do Egito. Ah, sim. Em todos os livros que constam desta bibliografia, não vi nenhuma outra menção a esta Esfinge Líbia que o Dr. Abreu afirma estar descoberta e
    catalogada, por isso, como nunca tive a oportunidade de visitar a região, não creio que tal construção exista de verdade, caso contrário, a meu ver, deveria ser digna ao menos de menção em obras mais conceituadas, mas, em última instância, é o leitor quem decide no que acreditar.


    Qual a verdade sobre a Esfinge?


    Talvez nunca venhamos a saber. Isso porque devido a vários problemas, desde conflitos religiosos até a presença de pessoas sem real interesse científico (mas apenas a intenção de comprovar suas crenças esotéricas) na região, a pesquisa séria se torna muito comprometida. É interessante notar também, como falaremos mais no final do texto, que a ação de ladrões de antiguidades também compromete muito a formulação de teorias, visto que desde o Egito Antigo existem quadrilhas que vivem de pilhar aquilo que restou do Período Faraônico. A falta de investimentos financeiros (que deveria advir do turismo, mas que é comprometida devido a ação de grupos extremistas que julgam o passado “pagão” do Egito como algo a ser esquecer e não a se pesquisar) também é fator importante na demora em se descobrir novos sítios e em se formular novas teorias. Hoje, para que um Historiador decida se capacitar como Arqueólogo já é um custo, visto que isso indica quase a certeza de maus ganhos
    financeiros futuros, se este indivíduo decidir ser Egiptólogo, então, terá que romper sozinho diversas fronteiras, como por exemplo os altos custos das viagens e da manutenção internacionais, a dificuldade em se encontrar um orientador devidamente capacitado para orientar uma Pós-Graduação em Egiptologia (na própria Universidade de São Paulo, o maior centro de pesquisa do Brasil, não existem muitos professores capacitados em orientar alunos nessa área), dentre outras... Este é o destino da pesquisa científica em Humanidades, ser relagada ao segundo plano em detrimento de pesquisas das áreas de Exatas e Biológicas.

    recebi sem autoria





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    posted by iSygrun Woelundr @ 5:51 PM   0 comments
    As Guerras Divinas no Panteão Egípcio


    Neste item explicarei algumas das questões mais pertinentes sobre a religião Egípcia, no entanto é muito importante que se atente para o fato de que a Mitologia Egípcia além de ter se modificado muito ao longo dos séculos, também não era conexa, na medida em que se baseava em tradições orais e em cleros independentes que visavam obter poder elevando as características de seus Deuses acima dos demais.

    Para uma mais perfeita compreensão, dividirei este item em sub-itens que se dedicarão a partes isoladas da Mitologia Egípcia. Recomendo ao leitor que atente para o fato de que muitas das Histórias são paradoxais e não se encaixam, além disso, também venho alerta-los para o fato de que por vezes existe mais de uma versão para a mesma História, entretanto, por razões de espaço, só me aterei às versões mais populares dos mitos, deixando as demais parcial ou totalmente de lado.


    5.1 – A História da Colina Primeva:

    Havia duas teologias básicas para a criação do mundo; aliás, para que se note, mundo (ou terra) é sinônimo de Egito, que, literalmente, significa “a Terra”; a teologia de Heliópolis e a de Hermópolis. Essas duas cosmogonias se fundiram numa terceira, a Menfita, que as sintetizava de comum acordo sendo, dessa forma, ao menos oficialmente, a teoria aceita de criação do mundo. Vamos a ela:

    No início havia apenas a água, chamada de Nun, uma deusa que vivia solitária em sua imensidão infinita. Certo dia, de dentro da água emergiu uma colina, a Colina Primeva, que se chamou Hermópolis, o primeiro lugar da terra.

    Uma das representações de Ra

    Sobre Hermópolis estava uma flor de lótus coma as pétalas fechadas. De dentro da flor, contudo, percebia-se uma forte claridade, tão forte que a flor mal pôde segura-la e assim sua pétalas se abriram revelando Aton, também chamado Ra, o sol que trouxe luminosidade à Colina. Em sua infinita sabedoria e poder, Ra contemplou Nun e desejou que com eles houvesse mais coisas, por isso, sentado sobre a Colina Primeva, o Deus Pássaro agarrou seu falo (pênis) e começou a se masturbar.

    Quando Ra atingiu seu clímax, de seu sêmen surgiram dois irmãos: o ar, chamado de Shu e a umidade, chamada de Tefnut.



    Agora eram quatro os Deuses que se reconheciam como tais e que se entreolhando, desejaram ser mais. Por isso, na boca de Ra, Shu gerou o céu, Deusa chamada de Nut e Tefnut gerou a Geb, o Deus da Terra.

    Os novos Deuses queriam mais companhia. Por isso, depois que Ra ascendeu a Nut (céu); lá ficando a brilhar sobre Hermópolis; Geb e Nut resolveram também procriar e de sua união nasceram quatro irmãos: as irmãs Isis e Néftis e os irmãos Osíris e Set.

    Em Nut, Ra encontrou Ptah e assim ficou sabendo que tudo se havia dado por sua vontade, pois ele era a própria essência da Criação. Ptah explicou a Ra que ele deveria Reinar sobre a Colina, mas que esta se expandiria, porque Nun (a água original), não tendo gostado de ter sua tranqüilidade abalada, se retiraria para lugares distantes, voltando, contudo, com mais força, de tempos em tempos. Ela era o próprio Nilo e como tal, a fonte de toda a vida.


    5.2 – O Reinado de Ra:

    Ptah era o Deus principal de Mênfis e sua sobreposição a todos os demais Deuses como sendo o Deus da Criação pela vontade do qual tudo se originou é tida como sendo um marco representativo da unificação do Egito, visto que Mênfis, a cidade de Ptah e capital do Egito unificado, havia sido construída num lugar supostamente neutro para apaziguar as tensões entre o Alto e o Baixo Egito, sendo assim, não é de se espantar que a cosmogonia dessa cidade tenha se esforçado para englobar as teologias pré-existentes da maneira mais sincrética possível de modo a não gerar descontentamentos.



    A figura de Ra como Deus mais importante do panteão não é casual, possivelmente ela remonta à época da ascensão do clero desse Deus, durante a IV Dinastia. A intensificação do culto a Ra, que originalmente também era Aton, fez com que o Egito se tornasse definitivamente um país devotado ao culto solar. Mas vejamos a história do governo de Ra sobre o mundo:

    Incumbido de comandar os destinos dos homens e das coisas num tempo anterior àquele em que os homens pudessem se estabelecer numa sociedade própria, Ra se viu muito atribulado de funções. Decidiu, então, tomar a forma humana e realizar a unificação do Egito.

    Ra foi o primeiro Faraó e em seu governo tudo e todos prosperaram. A pujança era tanta e a alegria tamanha que, aos poucos, os homens deixaram de reverenciar Ra por seu trabalho, o que fez o Deus se revoltar contra seus súditos.

    Utilizando-se dos segredos que só ele conhecia, Ra criou uma Deusa maligna chamada Sekhmet, uma mulher com corpo de leoa e tamanho gigante, e a enviou para punir seus súditos ingratos.
    Por vários dias Sekhmet destruiu vilas e matou pessoas promovendo um banho de sangue jamais visto. A crueldade da Deusa fez com que os homens se lembrassem novamente de seu bondoso e poderoso Faraó-Deus, rogando-lhe que fizesse a Deusa Leoa parar a carnificina.
    Ra, contente por ver seus súditos voltarem a adora-lo, ordenou a Sekhmet que não matasse mais ninguém, porém a Deusa havia se viciado no gosto do sangue dos homens e, mesmo contrariando os desígnios do Deus Sol, o Pássaro Ra, continuou a destruir vilas, matar pessoas e tomar seu sangue. Gostava de espalhar o sangue pelo chão e bebê-lo ali, gelado, muitas vezes no dia seguinte à matança em si, para, dessa forma, sentir o posto podre do sangue velho.

    Estátua de Sekhmet

    Temendo que Sekhmet destruísse toda a humanidade, Ra convocou pela primeira vez o Conselho dos Deuses e ordenou que todos trabalhassem em conjunto para deter a Leoa.

    A uns coube a tarefa de produzir cerveja e a outros a de conseguir corante vermelho. Quando tudo estava pronto, os Deuses tingiram grandes quantidades de cerveja com corante vermelho e a espalharam pelo chão, no meio da madrugada.

    Ao amanhecer, Sekhmet retornou para beber o sangue derramado e iniciar um novo dia de matanças, mas ao beber a cerveja, ficou embriagada e pôs-se a dormir. Ra, aproveitando a chance, apareceu e capturou sua criatura levando-a para sempre para Amentet, o mundo dos mortos.

    Ra governava já há muitos anos e estava velho, conhecia todos os segredos e por isso podia Reinar soberano, entretanto, Isis cobiçava o poder e não aceitava vê-lo por tanto tempo nas mãos de Ra, agora que o Deus estava velho ela vislumbrava uma chance de obtê-lo.




    Isis
    Isis era Deusa de muitas coisas, das mulheres, dos partos, da cura e da magia. Depois de Ra ela era quem mais conhecia segredos, na verdade, Ra só conhecia um segredo que Isis não conhecia e era por isso que ele podia governar e não ela. O segredo que Ra conhecia era seu próprio nome secreto, a essência de sua liberdade. Isis queria arrancar isso dele.

    Mesmo tendo a velhice tornado Ra menos poderoso, ele ainda era o Deus mais poderoso dentre todos, por isso Isis precisaria de um bom plano para arrancar seu nome sem incorrer no risco de despertar sua ira. Lembrava-se bem do que a ira do velho Deus era capaz, a destruição que Sekhmet provocara quase havia sido impossível de deter.


    Enquanto o velho Deus dormia em seu leito, Isis recolheu a baba que lhe escorria da boca. Misturando essa baba à essência de Geb (a terra), Isis enrolou-a e assim, produziu uma serpente venenosa.



    Com um passe de mágica, a Deusa transformou sua serpente num pedaço de madeira e colocou-o no caminho que sabia que Ra traçaria no dia seguinte.

    Ao acordar, o Faraó-Deus saiu a caminhar, mas, devido à velhice, vinha andando cada vez mais arqueado, por isso, quando se deparou com um pedaço de madeira, julgou que ele poderia ser um bom cajado. Pegou-o e nesse exato instante, ele se transformou numa serpente que picou-lhe a mão a fugiu.

    Isis fez-se presente então ao lado do Deus Sol que gemia agoniado, prestes a morrer. Ela ofereceu ajuda dizendo que se soubesse seu nome verdadeiro poderia fazer um feitiço capaz de cura-lo. Ra, é claro, não desejava dizer seu nome a Isis, sabia que a Deusa só precisava disso para tomar-lhe o lugar, por isso recusou-se.

    Contudo, a morte se avizinhou do Deus e, temendo-a, o Faraó disse seu nome verdadeiro à Deusa. Isis, mais do que depressa recitou um encantamento que curou Ra, deixando-o livre para seguir seu caminho, porém, retirando-lhe o trono.


    5.3 – A Epopéia de Osíris e Set:

    A tomada do poder de Ra por Isis, como vimos, pode ser interpretada como a origem da tradição Egípcia de as mulheres serem as portadoras do poder Real. É interessante se notar que a origem da crença Egípcia do poder dos nomes está contida nesta lenda. Para os Egípcios os nomes tinham poderes, sendo assim, todos os Egípicos tinham dois nomes, o nome público, pelo qual eram conhecidos por todos e o nome secreto, que só era conhecido pelas pessoas mais próximas do indivíduo, afim de evitar que ele fosse enfeitiçado, como aconteceu com Ra quando Isis descobriu seu nome.




    No que se refere ao panteão Egípcio; a esta altura existiam alguns outros Deuses cujas origens não são explicadas, alguns deles, como Hapi (o Nilo, visto que Nun era toda a água) são plenamente aceitáveis como extensões de Deuses pré-existentes, porém outros, como Anúbis (Deus do Embalsamamento) e Thot (Deus da Escrita e, futuramente, também da Magia), têm origens desconhecidas, parecem muito mais ter sido criados na medida em que se fizeram necessários, como veremos:


    Quando Ra partiu para o ocidente, o mundo dos mortos e das trevas onde todos eram imortais, o poder passou às mãos de Isis, porém de acordo com os desígnios de Ptah, ela não poderia governar, porque era uma mulher, sendo assim, seu poder foi exercido por seu marido, Osíris.





    Pintura com representação de Osíris
    Assim como Isis, Osíris não tinha traços animais e até esse momento, não possuía nenhuma característica Divina que o diferenciasse. Esmo assim tornou-se o sucessor de Ra no comando do Egito.

    O governo de Osíris foi marcado por muita prosperidade, tanta quanto, ou até mais que no início do governo de Ra. O novo Faraó-Deus ensina os homens a cultivarem Geb depois que esta era fertilizada por Hapi, e assim permite-lhes possuir alimentos indefinidamente. Porém, a principal criação desse Deus foi o marco principal do poder do Egito. Osíris criou Maat.


    Essa entidade invisível não era propriamente um Deus, mas uma espécie de Espírito Divino. Através de Maat Osíris governou com justiça, verdade e ordem por muitos e muitos anos. Em seu governo, a convocação do conselho dos Deuses, assim como Ra fizera no caso de Sekhmet, era constante, Osíris queria governar agradando a todas opiniões.

    Todos os Deuses, outrora ciumentos com o poder de Ra, agora estavam contentes com o governo de Osíris, se sentiam respeitados e não excluídos por um Sol que brilhava sozinho. Todos, menos um...



    Set (Deus antropozoomórfico cuja feição animal não é muito bem definida, não sendo identificada a nenhum animal, mas talvez seja uma hiena ou algo parecido), o irmão gêmeo de Osíris, Deus dos Desertos, dos Animais, do Caos e do Mal, não estava contente, queria poder governar, sentia-se em relação a Osíris da mesma forma que Isis, outrora, sentiu-se em relação a Ra.

    Estátua de Set


    Da mesma forma que Osíris casara-se com sua irmã Isis, também Set casara-se com sua irmã (os quatro Deuses eram irmãos entre si) Néftis, a Deusa da Morte. Eram pares equivalentes e opostos.

    Em sua ânsia por destronar o irmão, Set conseguiu amealhar seguidores, eram 72 ao todo e todos haviam sido convencidos pela eloqüência de Set a trair Osíris, mesmo esse sendo o “Deus Perpetuamente Bom”.

    Com a ajuda de seus seguidores, Set consegue adentrar nos aposentos de Osíris e enquanto este dorme, tira todas as suas medidas. Com base nas medidas do irmão, Set constrói a mais bela arca que já fora construída; perfeita em seus mínimos detalhes, feita com o mais belo cedro, as mais perfeitas jóias e o mais puro ouro.

    Na noite seguinte, Osíris ofereceu um banquete aos Deuses em seu palácio e, durante a festividade, Set ordenou que seus seguidores trouxessem a arca para o salão. Os comentários foram gerais, todos os Deuses adoraram a obra de Set. Todos queriam possuí-la!



    Vendo que seu plano estava funcionando, Set propôs um jogo aos convivas. A arca seria daquele Deus que coubesse deitado perfeitamente dentro dela.

    Um a um os Deuses foram se deitando na arca de Set, mas nenhum cabia perfeitamente nela. Uns eram muito grandes, outros muito pequenos e assim, todos se deitaram e a vez de Osíris, que por educação deixara todos os seus convidados tentarem a sorte antes dele, testar a arca do irmão.

    Quando Osíris se deitou, coube perfeitamente dentro arca. Claro, ela havia sido feita sob medida para ele!

    Nesse exato momento, os seguidores de Set avançam para a arca e seguram Osíris em seu fundo. Set, mais do que depressa, coloca a tampa sobre ela e seus seguidores pregam-na. Para assegurar que Osíris não escaparia, Set derruba metal derretido sobre as frestas de modo a soldar a tampa na caixa.

    Atônitos, os Deuses nada fazem para impedir que o Faraó-Deus seja capturado por seu irmão. Muitos ainda pensam se tratar de parte do jogo proposto por Set. O Deus e seus seguidores carregam a caixa para fora do palácio e atiram-na no Nilo, onde ela vai boiando até desaparecer nas longínquas águas de Nun.

    Uma vez tendo expulso o Faraó-Deus, Set se torna o novo governante do Egito e Néftis, sua esposa. Os 72 seguidores de Set são agraciados com altos cargos e se inicia um verdadeiro período de terror. Néftis espalha a morte entre a população e Set, com seu governo de caos, praticamente destrói a Maat.

    Os demais Deuses sabem que não podem com o poder de Set, sua Grande Mulher e seus seguidores, por isso, aceitam voltar a uma condição bem inferior àquela que conheciam durante o egoísta governo de Ra, uma vez que, ao menos, Ra era bondoso.


    5.4 – A Busca pelo Corpo de Osíris:

    Pode-se notar claramente que alguns mitos Egípcios influenciaram a religião Grega, por exemplo, para os Gregos, o mundo havia surgido do caos, para os Egípcios, também e este caos eram águas negras e solitárias, além disso, se o mundo surgiu do caos, ele deve caminhar para a ordem, o fundamento básico da existência Egípcia, ou seja, a busca de Maat. Na Grécia, Saturno, o Céu, fecundando Gaia, a Terra, criou os demais Titãs, no Egito, alguns dos principais Deuses surgiram da fertilização de Geb, a Terra, por Nut, o Céu. Na Grécia, Chronos, filho de Saturno, derrota-o e mata-o tomando seu lugar, no Egito, Isis (de um certo ponto de vista uma filha, ou ao menos neta de Ra) faz o mesmo, mas só não toma seu lugar porque é mulher. Set expulsa e mata Osíris da mesma forma que Chronos fizera com Saturno, porém, também da mesma forma, acaba expulso por um Deus subseqüente, ele por Hórus, Chronos, por Zeus. É interessante traçar paralelos entre doutrinas religiosas para se
    perceber que elas podem se difundir de uma região para outra, assim como o fizeram no fim da Antiguidade (como é o caso do Cristianismo), já o faziam bem antes, na época Egípcia.



    Quanto ao governo de Set, pode-se perceber uma clara influência do Baixo Egito nesta lenda, visto que, como vimos, o Deus padroeiro da I Dinastia, aquela que conquistou o Baixo Egito e unificou o país era justamente Set. É claro que nessa época ele não era associado ao caos e ao mal, mas essa associação deve ser posterior à mudança da Divindade padroeira da Monarquia, com a substituição de Set por Hórus, o Deus dos Monarcas do Baixo Egito. Como já vimos, essa substituição se deu provavelmente para aplacar a ira das populações do Delta e, sendo assim, as memórias das mortes ocorridas na conquista e nas primeiras tentativas de pacificação pela força devem ter se refletido na atribuição a Set de um governo de Caos e Morte, implantado pela traição e pelo assassinato.

    Depois que Set toma o poder, a única Deusa que se levanta contra ele é Isis, vejamos como a lenda continua:




    Osiris
    Isis, por ser a verdadeira guardiã do poder Real, não aceita que Set o tenha usurpado de seu marido e irmão Osíris, por isso, faz menção de enfrenta-lo. Contudo, Thot (Deus que deu a escrita aos homens e que por isso será citado mais adiante, além de ter sido adotado como padroeiro dos Escribas), o mais sábio dos Deuses, aconselha-a a não tentar contestar o poder de Set, pois ele se havia tornado muito poderoso como Faraó-Deus e não poderia ser derrotado facilmente.

    O Deus diz a Isis que o melhor a fazer seria fugir para o Delta e se refugiar por lá a fim de evitar que a cólera de Set se voltasse também contra ela. Isis acaba achando a idéia de Thot boa e vê nela uma oportunidade de encontrar Osíris que ela ainda tem esperanças de que esteja vivo. Parte então para o Delta, porém, Thot dá a ela sete escorpiões para que a acompanhem e protejam na viagem.



    Chegando no Delta, Isis percebe o quão difícil é se locomover por entre os brejos, por isso, assim que encontra uma casa, pede à sua moradora para que possa passar a noite. A mulher, contudo, nega o pedido da Deusa, visto que tem os escorpiões que a acompanham. Isis, furiosa, decide continuar seu caminho por entre o brejo. É quando ouve a mulher que lhe negara abrigo gritando desesperada. Decide voltar para ver o que havia acontecido.



    Quando chega na casa da mulher, percebe o que ocorrera, seis de seus escorpiões haviam picado um deles, e nome Téfen, matando-se para injetar seu veneno no escolhido. Este escorpião, então, antes de morrer envenenado, esgueirou-se por entre as frestas da parede da casa da mulher e, ao encontrar seu bebê dormindo no berço, picou-o. A picada matou o bebê e também o escorpião. De tão contrariada, Isis nem sequer se havia dado conta que não tinha sido acompanhada por seus escorpiões protetores, no entanto, quando viu a mulher chorando com seu bebe morto no colo, estendeu as mãos sobre o rosto da criança e, com um passe de mágica, restituiu-lhe a vida.

    A mulher ficou tão agradecida que ofereceu estadia à Deusa, no entanto, esta não aceitou, havia mudado de idéia, não iria só se refugiar no Delta, iria vasculha-lo inteiro à procura de seu marido.

    Dias se passaram... Meses... E Isis não encontrou o esquife de Osíris. Pensou então que ele não deveria ter ficado retido nos brejos do Delta, mas sim, deveria ter flutuado em direção ao mar sendo levado, talvez à Fenícia.

    Com um barco a Deusa saiu navegando e mapeando a costa desde o Delta até a Fenícia, não queria deixar de procurar em lugar algum, sabia que em algum lugar Osíris haveria de estar, vivo ou morto.

    Conversando com pescadores e pessoas que habitavam o Sinai, a Palestina e a Fenícia, Isis não ficou sabendo sobre a localização do corpo de seu marido, mas, em compensação, ouviu rumores sobre uma árvore maravilhosa que havia em Biblos, na Fenícia. Imaginando que tal árvore deveria estar relacionada com a presença de Osíris e concluindo que se se tratava de uma árvore maravilhosa deveria estar nos jardins do Rei, Isis foi até Biblos e, para não levantar suspeitas sobre sua presença na região, se disfarçou de empregada do palácio do Rei.

    Todos os dias a Deusa limpava, arrumava, cozinhava, tecia e procurava... Queria encontrar a tal árvore maravilhosa, revistou todas as árvores dos jardins do Rei e também as mais espetaculares dentre as do bosque Real. Havia muitas árvores fantásticas, mas nenhuma parecia ser mais do que uma árvore normal.

    Certo dia, quando já estava cansada de tanto procurar, Isis entrou no salão principal do palácio e então, ao prestar atenção numa magnífica coluna de madeira que, sozinha, sustentava todo o teto do recinto, percebeu que sua busca acabara. A árvore que procurava não estava em estado bruto, já havia sido trabalhada pelas mãos do homem e, por ser tão maravilhosa, fora escolhida para sustentar o teto do saguão principal do palácio do Rei de Biblos. A Deusa se aproximou da coluna, se desfez de seu disfarce e, sem esforço, devido às suas qualidades Divinas, retirou o esquife de dentro da coluna. Agora ela compreendia que quando a correnteza levou o baú até a Fenícia, este acabou se enroscando numa árvore que estava por nascer. Percebendo a divindade de Osíris dentro da caixa, a árvore cresceu rápida e majestosamente a fim de envolver e proteger o Deus. Vendo essa árvore, o Rei de Biblos ordenou que fosse cortada e trabalhada para que se tornasse o principal e mais belo
    pilar de seu palácio.

    Isis arrastou a caixa até o mar e, colocando-a num barco, navegou de volta ao Egito. A Deusa sabia que, dentro do esquife, Osíris jazia sem vida, mas, mesmo assim, queria leva-lo de volta à Colina Primeva (o Egito) para que pudesse ter um enterro digno.

    Assim que as águas ao redor do barco de Isis perderam a salinidade, a Deusa percebeu que já estava no Delta, em terras Egípcias, sendo assim, retirou o esquife do barco e o escondeu em meio a arbustos, depois rumou para Buto, no Alto Egito, para encontrar os outros Deuses e comunicar seu achado.

    Na noite em que Isis rumava para Buto, Set decidira caçar patos no Delta. A caça era sua diversão favorita, estava ligada à morte e ele não precisaria se preocupar com o governo enquanto a realizava, afinal, queria o poder, não as responsabilidade dele advindas. Quando se esgueirava em silêncio por entre as moitas do delta com seu arco armado, Set tropeçou em algo que o fez cair e soltar um grito. Seu grito espantou as aves que saíram voando e, com ira, o Faraó-Deus se levantou para ver o que o tinha feito cair.

    Qual não foi sua surpresa quando notou se tratar do esquife que havia construído para seu irmão Osíris. Nesse exato momento, Set foi tomado de ódio e, com as próprias mãos passou a golpear sua obra de arte. Sua fúria era tanta que nem mesmo o cedro e o ouro do esquife foram capazes de resistir a ela. Com alguns golpes o Deus rasgou os esquife em pedaço e, ao se deparar com o corpo do Deus-Faraó morto, sua ira não se aplacou e, sendo assim, ele continuou golpeando. Fez o corpo de Osíris em pedaços, pedaços que lançou ao vento e, só então se deu por feliz.

    Isis, em meio a sua jornada a Buto percebeu o que estava acontecendo e mudou a direção de seu caminho, porém, não teve tempo de impedir seu irmão maligno de destroçar o cadáver de seu marido irmão. Quando chegou ao Delta, só encontrou os pedaços do caixão destroçados. Sabia que teria que procurar os pedaços de Osíris para poder, enfim dar-lhe um sepultamento decente.


    5.5 – O Nascimento de Hórus:

    Obviamente os mitos religiosos são, como não poderiam deixar de ser, baseados nas experiências cotidianas da comunidade que os cria. Por isso, no caso da peregrinação de Isis à Fenícia, podemos perceber diversas coisas: por exemplo, o comércio de cedro com a Fenícia produziu no imaginário Egípcio a idéia de que o país possuía as mais maravilhosas árvores do mundo, inclusive, uma capaz de agir de modo a proteger o cadáver de Osíris. Pode-se perceber no comportamento de Isis um dualismo característico da sociedade Egípcia; se por um lado ela pode ser má a ponto de permitir que seus asseclas matassem um bebê, por outro ela pôde ser boa a ponto de se comover com essa morte e reviver a criança. Se por um lado ela pode ser uma Deusa de aparência esplêndida e imponente, por outro ela pôde se disfarçar de empregada do palácio do Rei de Biblos e lá trabalhar, de fato, por vários meses. É claro que a história também nos mostra a determinação vencendo os contratempos e, no
    final sendo recompensada, por outro lado, ela também nos mostra que descuidos podem acarretar em perdas irreparáveis, como o que aconteceu com Isis ao deixar o corpo de Osíris sem ser vigiado no Delta do Nilo.



    A História, contudo, ainda está por ter um desfecho e, sendo assim, vou continuá-la:

    Isis percebeu o que Set tinha feito com o corpo de seu marido, por isso, resolveu partir em busca de seus pedaços que se haviam espalhado, levados pelo vento, por todas as partes do Egito.

    A jornada de Isis foi longa, pois a fúria de Set fez Osíris em 15 pedaços e estes não ficaram em nenhum lugar aparente, mas escondidos nas mais diversas regiões.

    Pouco-a-pouco, navegando o Nilo sem ser incomodada em sua busca nem mesmo pelos mais violentos crocodilos, a esposa de Osíris foi encontrando os pedaços de seu irmão marido e, em cada lugar onde encontrava uma parte de seu corpo, erigia um templo em sua honra, sendo assim, o culto de Osíris se espalhou por todo o Egito.

    Dentro em pouco tempo Isis já contava com 13 dos quinze pedaços do corpo de Osíris, faltavam-lhe, no entanto, duas partes fundamentais: a cabeça e o falo.

    Subindo o Nilo em direção ao sul, ao Alto Egito, Isis avistou uma bela árvore, uma tamargueira. Ela parecia tão frondosa que nem sequer se inseria no contexto das pequenas, frágeis e retorcidas árvores Egípcias. Parecia uma árvore da Fenícia. A Deusa, por jamais ter notado tal árvore em suas viagens pelo Nilo, logo percebeu que ela não estava ali por acaso, mas que era um sinal para que se percebesse a presença de Osíris. A Deusa atracou sua embarcação e se aproximou da árvore. Nada viu em seu caule, como havia visto na árvore da Fenícia. Resolveu, então, escala-la. E o fez.


    No topo da árvore, bem no entroncamento dos galhos mais altos, Isis encontrou a cabeça de Osíris. Agora a Deusa dispunha de 14 pedaços de seu marido, porém, ainda faltava seu falo. Seu corpo não estava completo...

    Isis desceu da tamargueira e, enquanto reunia os pedaços de Osíris, se deu conta de que havia procurado em todos os lugares possíveis e que se até aquele momento ainda não havia encontrado o falo de Osíris era porque seria impossível faze-lo. Por isso, quando todos os pedaços de Osíris estavam reunidos, Isis, com o barro do Nilo, fez-lhe um falo artificial. Moldou-o exatamente igual o original e o colocou em seu devido lugar. Depois, com uma prece, invocou Anúbis, o Deus dos Embalsamamentos, e pediu-lhe que imortalizasse Osíris.

    O Deus com cabeça de Chacal preparou o antigo Faraó-Deus para a vida eterna e, finalmente quando terminou sua cerimônia de abertura de boca (essa cerimônia era a última etapa das mumificações e também era utilizada o final das construções de estátuas de Deuses, consistia em cortar a perna de um carneiro e esfrega-la contra a boca da múmia ou da estátua restituindo-lhe simbolicamente a vida), Osíris voltou à vida. O Deus tocou sua esposa num sinal de gratidão e depois seguiu sua jornada para Amentet (o Ocidente, o mundo dos mortos).

    Em Abidos, local onde se encontrava a tamargueira onde fora encontrada a cabeça de Osíris, foi erigido o principal santuário fúnebre do Egito, onde muitos Faraós vieram a ter sua imagem imortalizada através de estátuas.

    Quando Osíris tocou Isis, a Deusa sentiu com se algo dentro dela houvesse mudado, percebeu então o que havia acontecido. De alguma forma, quando a Deusa ficou sabendo o nome verdadeiro de Ra e, dessa maneira, tomou-lhe o trono, destinando-o a Osíris, era como se o Faraó original, o Grande Sol do Egito, tivesse compartilhado sua semente de poder com ela. Agora que ela acabara de ajudar a salvar o Faraó-Deus do Egito, Osíris, ajudando-o a completar sua jornada para Amentet. Essa semente havia começado a germinar. Dentro dela nascia um novo Faraó-Deus.

    Isis e Anúbis seguiram pra Buto e depois se separaram. Vivendo disfarçada nessa cidade, a Deusa teve seu filho, o Deus Falcão Hórus. Ela e o filho viveram disfarçados, como gente comum e foi como gente comum que certo dia Hórus, enquanto ainda era apenas um bebê, foi picado por um escorpião enquanto repousava em sua canoa de junco, embalado pelas águas do Nilo e sob o olhar da mãe.

    Hórus, como o bebê da mulher do Delta, morreu e, como aquela mulher, Isis ficou desesperada. Ela era poderosa, havia restituído a vida ao bebê daquela senhora, porém, aquele era um bebê comum, um humano destinado a viver como tal, e não um Deus-Bebê carecendo apenas de crescer para reclamar o trono do Egito. Para trazer seu filho de volta à vida Isis não tinha nenhum poder.

    Ra odiava Isis pelo que ela o havia feito, contudo, ele também era pai do bebê que acabara de morrer, por isso, a ver seu filho sem vida, largado nos braços de sua impotente mãe em prantos, o Deus Sol ordenou a Thot, o deus Íbis (espécie de ave Egípcia), que fosse até Isis e revivesse seu filho Hórus. E assim fez Thot, aquele que mais rapidamente chegava aos lugares.

    Com um toque o Deus da Sabedoria trouxe Hórus de volta a vida. O bebê jamais se lembrou de sua passagem pelo Reino que seu pai (Osíris) agora governava, porém, depois dela, se tornou diferente. Tão logo começou a andar, começou a praticar as técnicas de combate. Empunhava muito bem um kopesh, atirava flechas como ninguém, conduzia carros de guerra (não devemos nos esquecer que as lendas evoluíam conforme novas tecnologias iam sendo introduzidas)... Era muito hábil, sábio e destro, porém, não possuía muito vigor físico.

    Depois de muitos anos, quando já era um adolescente, Hórus resolveu sair de Buto e da proteção da mãe. Queria ir ao conselho dos Deuses. Queria requisitar para si o que era seu de direito, o trono do Egito.




    Hórus
    A reunião do conselho dos Deuses foi a primeira vez em que Set soube da existência do Filho de Osíris. O surgimento de um herdeiro legítimo não estava em seus planos, queria continuar governando de maneira inconteste e espalhando o caos e a morte por todo o Egito como vinha fazendo desde que matara Osíris.


    Diante do conselho dos Deuses, Hórus declara que o trono do Egito, por ter pertencido a seu pai e por ter sido concedido a este por sua mãe, lhe é de direito e que Set é um usurpador. Thot e Shu dão-lhe razão e a assembléia se tumultua.



    Os Deuses não conseguem chegar a um acordo, estão divididos, alguns apóiam Hórus, outros apóiam Set, mas a maioria não toma partido algum. Thot sugere que se consulte Ptah, o Deus Criador, que nunca participava das reuniões do conselho. Todos concordam e Thot então escreve a ele.



    A resposta vem rápida, Ptah quer que a coroa seja entregue a Hórus, pois este é o Filho de Osíris.



    Parecia que a decisão estava tomada, afinal, o Criador havia proferido sua sentença e ainda havia acrescentado a ameaça de que o céu desabaria caso sua decisão fosse contrariada. Porém, os Deuses não conseguiam chegar a uma acordo e, sendo assim, mesmo um veredicto parecia em vias de ser proferido, Ra, o chefe do conselho dos Deuses, contrariado pela arrogância de Ptah e revoltado por também não ser mencionado como pai de Hórus, alega que o Filho de Osíris é muito jovem e inexperiente para assumir o trono que já foi dele.

    Novo tumulto se inicia, Set se dá por feliz por ter obtido o apoio de Ra à sua causa e incita mais ainda o caos entre os Deuses, contudo, Ra, apesar de sua influência e poder, não consegue convencer seus pares de que seu ponto de vista é razoável, por isso, sem chegar a qualquer decisão, a assembléia se dissolve.

    Irado com a situação, Ra se recusa a iluminar o mundo deixando tudo e todos perdidos na escuridão perpétua da criação. Porém, sua filha Hator, Deusa da Lua, do Amor e da Música, ao ver o pai tão contrariado, mesmo à luz da lua, resolveu cantar e dançar para ele. A Deusa Vaca conseguiu alegrar Ra que decidiu voltar a reunir o conselho dos Deuses para deliberar sobre a questão de Set e Hórus.

    Novamente a assembléia se reúne, porém, desta vez é Set quem consegue angariar a preferência dos Deuses. A maioria defende que se ele já é o Faraó, assim deve permanecer. Ra é quem mais argumenta em seu favor, visto que afirma que Set obtivera o poder através de uma trapaça semelhante àquela que Isis utilizara para transferir o poder a Osíris, porém, naquela ocasião ninguém se posicionou contra o governo do Deus agora morto.

    Isis e Thot se indignam com as exposições e declaram que Hórus é o herdeiro legítimo, coisa que não havia na época em que Ra perdeu o trono.

    Neste momento, nervoso, Set se manifesta pela primeira vez. Declara que abandonará a assembléia e a julgará inválida se dela Isis não for impedida de participar.

    Todos, em especial Ra, concordam com o ponto de vista do Deus-Faraó e, sendo assim, uma nova reunião é marcada, esta, a se realizar na ilha de Filae, no Nilo. O barqueiro que conduz as pessoas àquela ilha é instruído para não permitir que Isis chegue até a ilha e, sendo assim, a assembléia prossegue sem a Deusa.

    Contudo, como já fizera outras vezes, Isis muda de forma. Desta vez, assume a forma de uma velha senhora e se aproxima do barqueiro pedindo para ir à ilha. O barqueiro, seguindo as ordens dos Deuses, não permite que ela siga para Filae, visto que nenhuma mulher deveria pisar naquele solo até que a reunião Divina acabasse. Isis, no entanto, alega ter ouvido sobre tal proibição, mas diz que o barqueiro está equivocado, visto que a proibição se restringe apenas à Deusa Isis. Ela, ainda sob a forma de velha, diz que precisa visitar seu filho que está na ilha e que se o barqueiro a conduzir ganhará seu anel de ouro. E mostra-o ao homem...

    Fascinado pelo reluzente brilho da jóia, o homem aceita conduzir a Deusa até Filae em troca dela.

    Uma vez na ilha, Isis toma a forma da mais bela das mulheres e surge na reunião num lugar em que apenas Set podia avista-la. Ao ver tão bela forma, o Deus se apaixonou imediatamente e, afastando-se da reunião, foi abordar a jovem.

    Quando Set aborda Isis, ela diz a ele que está com um problema e pede sua ajuda para resolve-lo. Ele, prontamente, se oferece para ajuda-la. Ela então, diz que tem um filho, mas que, após a morte de seu marido, um estranho tomou posse de seus bens e, sendo assim, seu filho agora não pode usufruir daquilo que o pai lhe deixou.

    Indignado com a injustiça e querendo impressionar a moça, Set se compromete a reparar o que está errado, custe o que custar. Diz que lutará pessoalmente pela jovem se for preciso. Dito isso Isis se transforma numa ave e voa até o meio da assembléia onde, reassumindo sua forma normal, brada que Set havia decretado sua própria sentença. Que ele próprio considerava injusta a situação a qual estava submetendo Hórus.

    Diante dos argumentos de Isis, todos os Deuses, sem exceção, se voltam contra Set, no entanto este não desiste de seu trono. Dispõe-se a lutar contra Hórus para que, num combate físico, possam decidir quem será o novo Faraó-Deus.

    Muitos anos de discussões se arrastam até que a luta de fato aconteça. Nesses anos, Set defende-se sempre sozinho no conselho dos Deuses. Os anos, no entanto, só fazem trabalhar em favor de Hórus que, agora, já não é mais um adolescente, mas um adulto.

    Chega então o dia em que os dois se opõem frente-a-frente. Set é forte e resistente, porém lento e não muito esperto. Hórus tem constituição física frágil, mas é muito inteligente e ágil, além de estar bem treinado.

    No momento da luta, contudo, Hórus tem a estranha sensação de que está sendo protegido por seu pai. Ele é o Filho de Osíris, não Set. Com o ânimo mais que renovado, o jovem Deus investe contra seu tio e o fere gravemente em diversos pontos. Porém, Set é muito resistente e não está disposto a desistir facilmente. Com sua lança, investe contra Hórus furando-lhe um dos olhos. A luta é indefinida...

    Percebendo que aquela disputa não decidiria realmente nada, Thot se interpõe entre os combatentes. Afasta-os um do outro e, depois de curar os ferimentos de ambos, inclusive restituindo o olho vazado a Hórus, propõe que só há um indivíduo capaz de decidir quem deve ser o novo Faraó-Deus: Osíris. Dito isso, Thot propõe enviar uma mensagem a Osíris em Amentet, coisa que todos temem fazer.

    Thot, porém, providencia que um mensageiro entregue a correspondência e traga uma resposta do Deus morto.

    A resposta não tarda e é tão categórica quanto previsível: Hórus deve ser o herdeiro de Osíris. Diante de uma intervenção de tamanha magnitude, até mesmo Set se curva. A coroa de Osíris é entregue a Hórus que, a partir de então se torna o governante do Egito.

    Quando Hórus chega ao palácio, os 72 seguidores de Set que o haviam ajudado a matar Osíris fogem e em direção ao Delta. Para evitar serem rastreados pelo Filho de Osíris, eles se fazem animais, os Animais de Set. Porém, Hórus os encontra e os mata a todos pondo um fim ao Reinado de Set sobre os Homens.


    5.6 – O Reino e o Tribunal de Osíris:

    As comparações entre o mito de Hórus e as tradições Judaico-Cristãs são inevitáveis. Primeiramente, é óbvia a comparação entre as lutas de Hórus com Set e de Davi com Golias. Em ambos os casos o que está em jogo é uma decisão política na base do confronto físico. Em ambos os casos existe um confronto de um indivíduo mau, grande, forte e burro com um indivíduo bom, franzino, inteligente e ágil. Em ambos os casos o indivíduo que em condições normais seria derrotado sai vitorioso.

    No entanto, a principal comparação que se pode depreender da epopéia de Hórus é a com a vida de Cristo. Inicialmente, ele é uma verdadeira trindade: Pai (Osíris), Filho (Hórus) e Espírito Santo (Ra). Em segundo lugar, também ele é concebido sem relação sexual, afinal, Osíris nem sequer dispunha de um falo de verdade e ele apenas toca Isis e ela engravida. Ainda enquanto criança ele morre e ocorre sua ressurreição, como a de Cristo. Também o reino de seu pai (Osíris) não é deste mundo, mas do outro. Também ele, quando morto fica largado nos braços de sua mãe em prantos. Também Hórus é o Salvador da Humanidade (no caso dele, a única coisa que importa é o Egito, no de Jesus, seu povo eleito é o povo de Israel). Também ele tem de enfrentar o Demônio (e o que é Set, senão o Demônio Egípcio?) para poder se purificar. Também ele passa por enormes sofrimentos e estigmas em seu caminho para a Salvação da Humanidade. Além disso, uma imagem recorrente na mitologia do
    Mediterrâneo Oriental era a de Isis com o bebê Hórus no colo, imagem que depois do Cristianismo será adaptada para a de Maria com o bebê Jesus no colo. Acredito que não é necessário dizer que tais semelhanças não são por acaso e, nem tão pouco, que são meras coincidências.

    Bem, salientadas as coincidências com a mitologia Judaico-Cristã, não podemos nos esquecer de ressaltar algumas coincidências também com a mitologia Grega. O conselho dos Deuses guarda uma grande semelhança com o Olimpo da Grécia e a posição de líder semi-ditatorial de Ra também é muito próxima da ocupada por Zeus frente ao seu panteão. Além disso, a postura de Ptah lembra aquela dos Titãs Gregos, ou seja, como grandes Deuses originais, os Titãs não se intrometiam muito nos feitos dos Deuses, ou, quando o faziam, tal intromissão não era muito relevante (leve-se em consideração que, na mitologia Grega, depois da ascensão dos novos Deuses a participação mais relevante de um Titã é a de Atlas, quando colhe uma maça de ouro de uma árvore do Jardim das Espérides para Hércules), assim como Ptah que decide, faz ameaças, não vê sua vontade feita e, mesmo assim, nada faz para punir a desobediência, como seria de se esperar que fizesse.

    Agora que já explicamos um pouco melhor a relação entre a mitologia Egípcia e as outras Mitologias que lhe são posteriores, podemos concluir esta parte da História. Há que se explicar o que foi feito dos Deuses:

    Como se pode notar, todas as histórias até aqui se remetem a um tempo em que os Deuses caminhavam livremente entre os homens, porém depois da vitória de Hórus sobre Set, vitória essa que não é definitiva, na medida em que set não morre (o que é proposital para deixar a lição de que deve-se tomar cuidado na manutenção da Maat, pois o mal e o caos espreitam), as coisas se tornaram diferentes.

    O próprio Hórus, como se pode constatar, na mitologia Egípcia é um deus atípico. Filho de três Deuses (Ra, Osíris e Isis), ele morre, mas ressucita, o que indica que pode voltar do mundo dos mortos, de onde ninguém volta. Sua ressurreição explica o fato de um novo Faraó ser empossado após a morte do anterior, afinal, o Faraó é o Hórus Vivo.

    Quando Hórus assume o trono, o que, na mitologia Egípcia equivale à unificação do Egito e à entrega do poder aos homens, os demais Deuses não perdem seus poderes, mas passam a não mais caminhar por entre o mundo dos vivos, vão se juntar a Osíris em Amentet. Lá, organizam sua sociedade divina e de lá são convocados todas as manhãs em seus respectivos templos, por seus Sacerdotes, ou pelo próprio Faraó. O único Deus Vivo a caminhar por entre os homens era o Hórus, na figura do Faraó. Este, por sua vez, era uma figura dual, ao mesmo tempo homem e Deus (Niswt) e Homem (Hm).

    Todos os homens, contudo, estavam aptos a entrar em Amentet, o Reino dos Mortos, e lá viverem ao lado dos Deuses por toda a eternidade. Para isso, no entanto, alguns cuidados deveriam ser tomados, cuidados estes que, originalmente, como vimos, estavam ligados à pessoa do Faraó, mas que posteriormente, ainda no Antigo Império, passaram a ser cada vez mais individualizados.

    Não bastava apenas que o indivíduo fosse corretamente mumificado, ele deveria ser sepultado de acordo com todas as normas, ou seja, deveria possuir os quatro vasos canópicos nas formas dos Deuses (filhos de Hórus) protetores de seus respectivos órgãos internos (estômago (protegido por Duamutef), intestinos (protegidos por Qebesenuf), pulmões (protegidos por Hapi) e fígado (protegido por Amset)), deveria receber uma cerimônia adequada de abertura de boca na qual seu ka (espécie de conceito de alma Egípcio, em termos gerais, a personalidade individual de cada um, por isso, no início apenas o Faraó e os Deuses o possuíam, depois, esse conceito foi difundido a todos) retornava para seu corpo, deveria ser corretamenete alimentado (com alimentos que seriam devorados apenas pelo “olhar” da múmia), receber ungüentos e fragmentos de encantamentos mágicos entre as bandagens e, por fim, um amuleto em formato de escaravelho (o chamado “Olho de Hórus”, que ele perdeu na batalha
    com Set, mas que, depois, teve restaurado por Thot) deveria ser adicionado às bandagens.

    Todas essas precauções, no entanto, de nada valeriam se o indivíduo não fosse bem sucedido nos testes do Tribunal de Osíris. Quando chegava ao Mundo dos Mortos o indivíduo era submetido ao conselho dos Deuses, perante o qual deveria declarar que sempre colaborou com a manutenção da Maat (inicialmente essa declaração deveria ser verdadeira e espontânea, mas, com o passar do tempo, como veremos mais adiante, acabou se tornando uma mera repetição mecânica de fórmulas mágicas contidas no Livro dos Mortos, que, ainda não era utilizado no Antigo Império), ou seja, que não havia roubado, matado, desviado canais de irrigação em benefício próprio, sonegado tributos, invadido terras alheias, etc.


    Se os Deuses julgassem sua declaração como verdadeira, então Anúbis colocaria o coração (que os Egípcios acreditavam ser o repositário tanto da mente (ou seja, da consciência) quanto do ka (a alma)) do morto sobre um dos pratos de uma balança. Osíris colocaria, então, uma pena (o símbolo da Maat) sobre o outro prato da balança e então a medição se daria. Se o coração fosse mais leve ou do mesmo peso que a Maat, o morto seria declarado apto a entrar no Reino de Osíris e, sendo assim, a se tornar imortal. Contudo, se o coração do morto fosse mais pesado que a pena, este seria atirado a Sebek, o Deus Crocodilo criado por Osíris para devorar os corações impuros, e, sendo assim, o indivíduo seria destruído para sempre.


    Não se tem certeza, mas é fortemente possível que sim, se os Egípcios acreditavam que o vilipêndio a um túmulo destruiria a imortalidade do indivíduo dono da múmia. Se eles realmente acreditavam nisso, então o trabalho dos ladrões de sepultura, cultistas de Set, era, também, diminuir a população do Reino de Osíris.





    5.7 – Culto a Deuses Solares:

    Como vimos, o culto ao Sol e a seus diversos aspectos povoava o imaginário religioso dos Egípcios. Porém, já que este astro era tão importante na vida daquele país, nada mais importante do que dissecar as diversas imagens que ele veio a ter, bem como suas implicações até mesmo na política Egípcia, visto que no Vale do Nilo política e religião eram um só assunto, uma vez que este era governado por um Faraó-Deus.

    Na história do panteão Egípcio pudemos ver que Ra foi o primeiro Deus a surgir, mas que surgiu com o nome de Aton. Por que isso aconteceu?



    a Aton Bem, porque Aton e Ra não eram exatamente a mesma divindade, mas sim, duas divindades relacionadas a uma mesma coisa: o Sol.

    Aton correspondia ao Círculo Solar, ou seja, àquela bola amarelo-avermelhada que se vê quando se olha para o céu durante o dia. Podemos dizer que Aton é a forma física do Sol, por isso, o primeiro a surgir.



    Porém, quando Aton surge, inevitavelmente Ra surge junto com ele. Ra é o Sol em si. O caráter Real e, porque não, Divino daquele astro. É ele quem toma atitudes, tem personalidade e até uma forma física humanóide (é um homem com uma cabeça de pássaro e uma coroa com o Sol sobre a cabeça). Ra é o Sol que governa, Aton o sol que brilha nos céus, ambos são um e este um são os dois.



    Hórus, contudo, é, em seu aspecto humanóide, muito parecido com Ra. Muitas vezes só se pode diferenciar os dois pelo adorno de cabeça (o de Ra é o próprio Sol, o de Horus, a coroa dupla do Egito). Por esse motivo e por ser filho de Ra, Hórus também é uma divindade solar. Com efeito, ele é o Sol Vivo. O Sol que caminha entre os homens. Ele é o que Ra costumava ser. Quando Ra deixa de sê-lo, praticamente se fundo a Aton em uma só divindade cujo nome preponderante é Ra, mas também chamada Ra-Aton.

    O fenômeno de fusão divina, tão comum na Antiguidade, também é uma criação Egípcia. Antropologicamente falando, ele se deve, ao menos no Egito, ao próprio fenômeno político da união gradativa dos Spat. Em muitos casos, dois Deuses poderosos e que se relacionavam a aspectos (ou portfolios) semelhantes acabavam se fundindo num só. Usualmente o nome do Deus preponderante é colocado antes e o do Deus “vassalo”, depois, dessa forma, Ra-Aton constitui a fusão de Ra com Aton sendo que este está em condição de inferioridade em relação àquele. Muitas histórias (deve-se ter em mente que nem todas as histórias da mitologia Egípcia foram aqui contadas, apenas o eixo narrativo principal) falam sobre o canibalismo de Deuses, ou seja, sobre Deuses que se tornam mais poderosos ao devorar outros. Este é um desses casos. No Catolicismo atual podemos perceber ainda resquícios fortes dessa antiga tradição surgida no Egito. Santos como Nossa Senhora de Fátima, Virgem de Guadalupe,
    Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Lourdes... são, na verdade, aspectos de uma mesma Santa: Maria. No entanto, existem milhares de fiéis e registros de milagres de cada uma delas e, ao menos em teoria ela acabam se tornando divindades diferentes. O mesmo ocorreu na Grécia na medida em que esta se expandiu militarmente no Período Helenístico e também em Roma, quando de sua expansão, ou seja, o canibalismo divino com um mesmo Deus adquirindo diversos aspectos é um fenômeno típico de fés expansionistas. Assim como empresas estrangeiras quando compram uma empresa já conceituada tendem a manter o nome da empresa comprada por um certo tempo (como, por exemplo, fez a Toshiba ao comprar a Semp, tornou-se, por alguns anos a Semp-Toshiba, para hoje, agora que já conquistou o mercado que outrora pertencera à outra, voltar a ser apenas Toshiba como, aliás, em seu país de origem, ela nunca deixara de ser) para, não causando estranhamento nos consumidores, angariar sua
    fidelidade, também as religiões adaptam seus dogmas e seus Deuses às realidades de cada região para, não chocando os fiéis com a pura e simples imposição, angariar sua fidelidade como se ela fosse um prolongamento natural do culto às antigas Divindades nacionais agora suplantadas pelo expansionismo (geralmente militar) de outra nação.

    Por fim, não podemos nos esquecer que Osíris era o outro pai de Hórus. Isso também é um acerto teológico para agradar a todos, visto que ao menos nos primórdios, Osíris era a única Divindade verdadeiramente nacional. Era adorado em todas as partes do Egito, em especial pelas camadas mais pobres da população. Por isso sua lenda diz que em cada um dos 14 lugares onde Isis encontrou um pedaço de seu corpo foi erigido um templo em sua homenagem. Deve-se pensar que 14 é igual a 2X7 e que 7 é o número do infinito segundo o ocultismo, cujas raízes são Egípcias. Por isso, não é de se espantar que esse 14 queira na verdade dizer duas vezes o infinito, ou seja, na prática, em todos os lugares.

    Osíris foi o primeiro Deus importante a realmente morrer. Porém, sua morte não é completa, na medida em que ele ressucita com a mumificação. Ele vai então viver em Amentet, o Mundo dos Mortos, do qual se torna Rei. O único Rei verdadeiro dos homens, visto que a existência no mundo dos vivos é temporária, mas no mundo dos mortos é eterna. Essa lenda foi feita para se salientar necessidade da mumificação no processo de busca da vida eterna, com efeito, Osíris é a primeira múmia da História. No entanto, com o passar do tempo Osíris foi associado à explicação de mais um fenômeno: o nascer e o pôr do sol.

    Se o Sol era Ra-Aton, isso era durante o dia, enquanto brilhava forte e vigoroso, porém, assim como todos os indivíduos fazem uma vez na vida, no final de cada dia o sol ia para o ocidente, para o Mundo dos mortos. Então surgia a noite comandada por Hator, mas, enquanto ela alegrava a Ra-Aton depois de sua jornada diária, no Mundo dos Morto era Osíris quem o conduzia de volta ao Egito. Por essa razão Osíris passou a ser cultuado também como o Sol Noturno, aquele sol que não se vê, pois, durante a noite, está em Amentet.

    Como já foi dito, a partir da IV Dinastia o clero de Ra, radicado em Heliopolis, foi ganhando cada vez mais força e isso pode ter sido a razão da derrocada do Antigo Império. Pois bem, na V Dinastia, quando os parentes dos Sacerdotes de Ra já não mais compunham a Realeza, estes começaram a exercer o poder que haviam obtido durante o tempo em que seus parentes se sentavam no trono de Mênfis.

    Uma das primeiras e mais impressionantes demonstrações da força do clero de Heliopolis foi a submissão de Hórus a Ra e a conseqüente submissão da figura do Faraó ao clero de Heliopolis.

    Durante a IV Dinastia Ra já havia canibalizado Aton fazendo com que esse Deus fosse praticamente esquecido por muitos e muitos séculos (ele viria ater muita importância ainda, mas apenas na XVIII Dinastia, como veremos), agora sua missão era canibalizar também o Faraó-Deus. Para esse propósito, a primeira coisa que o clero de Ra conseguiu foi considerar Hórus como filho de Ra, data, portanto, da V Dinastia, a mudança na teologia oficial que passa a aceitar dois pais para Hórus (é curioso notar que Osíris nunca é descartado como figura paterna de Hórus porque os Egípcios em tudo, mas especialmente em assuntos religiosos, tinham o costume de nunca descartar totalmente tradições antigas, sendo assim, se uma nova explicação para algo surgia, esta era simplesmente fundida às já existentes; isso, em muitos casos é o responsável pela complexidade e dificuldade de compreensão de muitos aspectos da história e da religião Egípcias).

    A partir daí, ocorre uma mudança gradativa e progressiva na figura do Faraó que passa de Deus Vivo a Filho de Deus, ou seja, um título de muito menos poder. Por fim, ainda na V Dinastia, ocorre a submissão de Hórus a Ra (se bem que em muitos lugares se possa ler a expressão Hórus-Ra, o que inçaria uma submissão de Ra a Hórus, essa expressão é errada, sendo a correta a que vem a seguir), passando esse Deus a se chamar Ra-Horemkhet, ou seja, “Ra, o Hórus no Horizonte”, nome pelo qual esse Deus seria conhecido por todo o Primeiro Período Intermediário e também por todo o Médio Império.


    5.8 – Implicações da Religião na Vida da População:

    Acredito que grandes explicações neste item sejam dispensáveis, a esta altura o leitor já deve ter podido perceber que a religião, no Egito Antigo, era a principal preocupação de todos os indivíduos.

    No entanto, apenas para que se possa ressaltar essa noção; enumerarei algumas das influências da Religião na vida dos Egípcios:

    As cidades Egípcias eram construídas, em geral na margem oriental do Nilo e as tumbas e templo na margem ocidental. Isso se dava porque, por causa do ciclo do sol, os Egípcios desenvolveram a noção de que a morte está relacionada com o ocidente e a vida com o oriente, sendo assim, cidade, onde se vivia, se situavam no oriente e túmulos (onde habitavam os corpos dos mortos) e templos (onde se comunicava-se com o além) situavam-se no ocidente. É claro que isso não é uma lei universal, existiam tumbas e, sobretudo, templos na margem oriental do Nilo, bem como cidades e vilas na margem ocidental, no entanto, via de regra o que ocorria era o contrário.

    Quanto à criação do mundo, o Egito é nitidamente o centro de tudo, do cosmos e do mundo. É a Colina Primeva e seus habitantes, leia-se os Egípcios e não seus escravos e mercenários, são os verdadeiros habitantes do mundo, os demais habitantes, os estrangeiros, são menos que humanos. Criações grotescas de Set. Aliás, de uma forma um tanto quanto distante; essa tradição dialoga com o Judaísmo, onde Seth, o terceiro filho de Adão e Eva, teria sido o responsável pelo povoamento do mundo e, sendo assim, o pai da humanidade.

    Como já foi falado, os nomes, para os Egípcios, eram considerados fontes de poder, sendo assim, quem soubesse o verdadeiro nome de um indivíduo poderia controla-lo, o que gerou a prática de se batizar os filhos com dois nomes. Um nome verdadeiro e secreto e um nome público, mas falso.

    As tradições mágicas do mundo (como veremos) em muito devem ao Egito. É verdade que estas só se espalharam devido aos Filósofos Neo-Platônicos que habitaram Alexandria, porém, muitas delas ou foram criadas pelos Egípcios (sendo, às vezes, modificadas pelos povos que as recebiam), ou inspiradas (mesmo que de forma errônea, com veremos, foi o caso do Hermetismo e da Alquimia) em sua cultura.

    O calendário Egípcio era muito confuso e se faz hoje de difícil datação porque, como já foi mencionado, ele era zerado a cada nova encarnação de Hórus, ou seja, a cada novo Faraó que tomava posse, sendo assim, as datas eram registradas segundo a seguinte fórmula: tal evento ocorreu no ano X do Faraó Y
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    posted by iSygrun Woelundr @ 5:09 PM   0 comments
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